Dia Mundial do Diabetes: doença é responsável por mais da metade das amputações de membros inferiores no Brasil

World diabetes day awareness concept. The diabetic measures the level of glucose in the blood, 14 November.

Equipe de especialistas em próteses e de fisioterapeutas auxilia na adaptação de pacientes que passaram pelo procedimento para garantir reabilitação. Veja dicas!

Quase 17 milhões de brasileiros têm diabetes. O dado do Ministério da Saúde coloca o Brasil como o 5° país do mundo com maior incidência da doença, que pode ter consequências gravíssimas, como a amputação de membros inferiores decorrentes de problemas circulatórios. E é justamente por isso que no dia 14 de novembro, em que se celebra o Dia Mundial do Diabetes, é tão importante falar sobre a doença. Da mesma forma que os números de doentes impressiona, também é alta a quantidade de pessoas que sofrem complicações da síndrome. Conforme a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), nos últimos 10 anos (janeiro de 2012 a março de 2022), dos 245 mil pacientes que sofreram amputações de membros inferiores no país, mais da metade tinham diabetes.

Outro dado impactante é que, segundo o presidente da SBACV, Julio Peclat, 85% das amputações relacionadas ao diabetes têm início com uma lesão nos pés, além da perda de sensibilidade na região. “O indivíduo não sente quando fere o pé. De modo geral, por não perceber, evolui para quadros de infecção que resultam em desbridamentos (retirada de tecidos) ou amputações”, afirma.

A Ottobock, empresa alemã líder em tecnologia e desenvolvimento de próteses e órteses com atuação no Brasil, ainda avalia que entre 30% e 40% das pessoas atendidas por eles tenham passado por amputação de membros inferiores em decorrência da doença.

Foi o caso do aposentado Roque Oliveira Silva, 64 anos, que mora na cidade do Rio de Janeiro. Ele faz tratamento contra o diabetes há 30 anos e precisou passar por uma cirurgia de amputação transtibial, quando os médicos retiram parte da tíbia e da fíbula, ossos que compõem a panturrilha. O procedimento foi necessário devido às complicações da doença no ano de 2019, quando ele começou a sentir dores no pé direito. “A dor era no dedão do pé e não tinha nenhum ferimento aparente. Até que o dedo começou a sangrar e infeccionou. Depois de mais ou menos cinco dias o pé ficou preto, fui ao médico e foi decido que seria melhor fazer a amputação”, explica.

Para se entender a gravidade e a rapidez da complicação da doença, a cirurgia, que foi realizada em maio do mesmo ano, retirou o pé e parte da perna direita, cinco centímetros abaixo do joelho. Mas felizmente, para esses casos mais extremos, existem hoje próteses modernas e que devolvem a qualidade de vida aos amputados. “Eu passei praticamente dois anos somente em casa, com pouca mobilidade, até que eu comecei a utilizar uma prótese adequada e vi a minha qualidade de vida mudar”, conta. O aposentado faz visitas semanais à clínica da Ottobock na capital fluminense, com sessões de fisioterapia e ajustes para melhorar sua mobilidade.

Próteses adequadas e cuidados contínuos garantem reabilitação

Para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar de pessoas amputadas em decorrência de complicações do diabetes, algumas atitudes são importantes, principalmente com o acompanhamento especializado de equipes multidisciplinares, conforme explica o diretor de MedicalCare e Academy na América Latina da Ottobock, Thomas Pfleghar. “Como a pessoa continuará com a doença, o acompanhamento com a prótese precisa ser intenso”, explica.

Confira abaixo quatro dicas do especialista para melhorar o bem-estar de pessoas que sofreram amputação e que convivem com o diabete:

1 – Cuidado especial com a prótese

Após a amputação em pessoas com diabetes e a aplicação da prótese mais adequada, é necessário atenção especial ao paciente, já que o contato contínuo do equipamento com o coto (parte do membro que encaixa com a prótese) não pode causar danos. “No caso do paciente diabético, devemos observar sempre o corpo todo, pois ainda pode ocorrer complicações. A Ottobock, por exemplo, possui o Sistema Harmony de próteses para amputações de membros inferiores, desenvolvido a partir dessa necessidade especial da pessoa com diabetes. Seu sistema de vácuo gera uma pressão que favorece a melhora do fluxo sanguíneo no coto. Com isso o paciente tem uma melhora progressiva da saúde não apenas do coto, mas do membro afetado de uma forma geral”, afirma Thomas.

2 – Fisioterapia para adaptação

O acompanhamento de fisioterapeutas ajuda na mobilidade e adaptação do paciente. O tratamento ocorre por um período extenso e que varia de acordo com a pessoa. Os especialistas da área podem sugerir exercícios para fortalecimento muscular, bem como o reforço da perna preservada para que ela possa sustentar o corpo junto com a prótese. O coto do membro retirado é também trabalhado para a adequação ao uso da prótese. São também realizados exercícios para que o indivíduo possa caminhar sozinho com equilíbrio e sustentação.

A reabilitação do diabético é essencial para que ele volte a realizar atividades físicas cotidianas e, dessa forma, possa fortalecer a circulação sanguínea e evitar novas complicações. “A amputação e possíveis falhas na reabilitação diminuem o nível de atividade física do paciente, o que pode gerar menor circulação do sangue e favorecer novas infecções e cirurgias futuras para a retirada de membros. Isso precisa ser evitado com bom acompanhamento pós-amputação”, explica Thomas.

3 – Acompanhamento psicológico

Qualquer perda pela qual uma pessoa passe requer um processo de aceitação e adaptação à nova realidade. Não é diferente quando se trata da amputação de um membro do corpo, como é o caso das pessoas com diabetes. Nesse sentido, a psicologia tem papel importante para auxiliar nessa adaptação e no enfrentamento da situação. Questões como o medo em relação a nova realidade corporal, aceitação por parte das outras pessoas e as limitações que o paciente tenha na rotina precisam ser trabalhadas com especialistas da área no processo de reabilitação.

4 – Higienização

A limpeza do coto, para qualquer paciente amputado, é essencial para evitar doenças na pele. Contudo, no caso de pessoas com diabetes, esse cuidado precisa ser ainda maior para evitar novas infecções. O ideal é que os pacientes utilizem sabonete líquido neutro e água morna para fazer a limpeza diária, realizando movimentos suaves e pressionando o coto de forma cuidadosa, para evitar qualquer tipo de lesão na pele. Também é importante que o paciente utilize produtos que não irritem a região.

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