Flexibilização dos governos e relaxamento da população podem agravar novamente pandemia no país

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“Muitos começaram a agir como se a pandemia tivesse acabado. Não só não acabou, como teremos que lidar com a Covid longa”, alerta Soraya Smaili, professora de farmacologia da Unifesp e coordenadora do SOU_CIÊNCIA

O otimismo exagerado com a redução no número de mortes por Covid no Brasil, fruto do avanço da vacinação, tem feito com que governos estaduais se apressem em seus planos de flexibilização, o que traz à população uma falsa sensação de fim da pandemia e um natural e perigoso relaxamento. Para Soraya Smaili, professora de farmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do centro SOU_CIÊNCIA, “o cenário é perigoso e pode ter como consequência novamente o agravamento da crise sanitária, potencializado por novas variantes, como a delta, crescente no país”.
Soraya alerta que, embora muitas pessoas tenham começado a agir como se a pandemia tivesse acabado, ela não só não acabou, como teremos que lidar com a Covid longa, com sequelas que ainda pouco conhecemos e que será preciso compreender e cuidar”.
Hoje, são vários os trabalhos científicos que revelam haver mais de 200 alterações que podem estar presentes na “Síndrome Pós-Covid” ou como tem sido chamada a partir do inglês, a “Covid longa”. “Dados levantados nos EUA reportam que há o dobro de casos de ansiedade e depressão na comparação com os números antes da pandemia. O cenário mostra que a Covid-19 compromete a saúde física, com consequências em diversos órgãos, como também na saúde mental. Por essa razão, uma das perguntas que temos que fazer é: como estará a nossa saúde de fato, no momento em que realmente pudermos tirar as máscaras? Por enquanto, não existe uma resposta clara, mas temos que refletir e nos conscientizarmos de que a pandemia não acabou e que ainda não sabemos quais consequências vamos viver”, destaca Soraya.
No caminho inverso da flexibilização, tem crescido o número de infectados pela variante delta no Brasil. A identificação da circulação dessa variante só não é maior porque o processo de detecção de variáveis no país ainda é lenta. “A identificação depende de sequenciamentos genéticos que, apesar de serem sistemas muito desenvolvidos em nossas universidades com intuito da pesquisa, ainda não estão incorporados pelas redes pública e privada para fins de diagnóstico de maneira corrente. Mesmo assim, é inegável que a variante, mais transmissível, tem encontrado território e está se expandindo no país”, diz Soraya.
O futuro dos tratamentos contra a Covid-19
Embora a ciência tenha avançado rapidamente no desenvolvimento das vacinas, a velocidade é menor no desenvolvimento de medicamentos. “Os fármacos também são ferramentas imprescindíveis para auxiliar no combate e medicação de doentes acometidos pela Covid-19. Nesse sentido, uma recente publicação na prestigiado periódico Journal of Molecular Biology mostrou que o futuro dos tratamentos contra a Covid poderá estar nos inibidores de proteases, área em que os pesquisadores brasileiros se superam. O artigo descreveu uma enzima, a 3CL, capaz de enganar o novo coronavírus”, destaca Soraya.
“Não sabemos ainda se seremos capazes de criar um antiviral eficiente. Mas, essas enzimas que estão sendo estudadas talvez tenham a capacidade de impedir a multiplicação do vírus dentro da célula do hospedeiro. Não sabemos se conseguiremos impedir que o vírus infecte a célula, mas se conseguirem impedir a sua replicação, já será uma grande conquista”, explica a professora de farmacologia da Unifesp e coordenadora do SOU_CIÊNCIA. Ela conclui: “outros estudos com a utilização dos inibidores de proteases já estão sendo desenvolvidos também por laboratórios farmacêuticos e alguns resultados de estudos clínicos começam a sair e parecem muito promissores. É a ciência avançando e dando respostas”.

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