Transplantes com células-tronco apresentam resultados positivos no combate à AIDS

Hand holding Red Ribbon for December World Aids Day (acquired immune deficiency syndrome), multiple myeloma Cancer Awareness month and National Red ribbon week. Healthcare and world cancer day concept

Casos de remissão do vírus HIV apontam possível eficácia do tratamento da doença

Recentemente, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou o primeiro estudo para testar um tratamento em indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A pesquisa foi feita em 30 voluntários, através de um novo coquetel com base de terapia antirretroviral reforçada com outras substâncias, além da adição da nicotinamida – uma das formas da vitamina B3.

Os pesquisadores também desenvolveram uma vacina de células dendríticas – importantes unidades funcionais no sistema imunológico, localizadas no sangue e em órgãos linfoides – que foram capazes de estimular o organismo do paciente a encontrar as células infectadas e destruí-las, eliminando completamente o vírus HIV.

“Essas células possuem a função de capturar micro-organismos prejudiciais e, posteriormente, apresentá-los aos linfócitos T CD8, que aprendem a encontrar e a destruir o vírus presente em regiões do corpo nas quais os antirretrovirais não chegam como cérebro, intestinos, ovários e testículos”, explica Dr. Nelson Tatsui, Diretor-Técnico do Grupo Criogênesis e Hematologista do HC-FMUSP.

Em 2009, médicos publicaram um relatório no New England Journal of Medicine detalhando o caso de Timothy Ray Brown, mais conhecido como “paciente de Berlim”, primeiro homem a ficar livre do vírus da AIDS por meio do transplante de células-tronco, a princípio, destinado para o tratamento de uma leucemia. A doação proveio de um doador que carregava uma mutação genética rara que confere resistência ao HIV.

O primeiro transplante de Brown ocorreu em 2007, no entanto, o sucesso foi parcial. O vírus do HIV sumiu, porém, a leucemia permaneceu. No ano seguinte, em março, Timothy passou por um segundo transplante do mesmo doador. A partir disso, testou negativo consecutivas vezes para a AIDS. Em setembro de 2020, Brown faleceu, aos 54 anos, vítima de câncer.

Já em 2019, outro caso foi divulgado. Intitulado como “paciente de Londres”, o britânico foi submetido a um transplante de células tronco em 2016, por causa de um câncer. Assim como no caso anterior, o doador apresentava mutação genética resistente ao HIV e o transplante trouxe alterações positivas ao seu sistema imunológico.

Passados 16 meses da cirurgia, os médicos do hospital de Londres retiraram o tratamento antirretroviral e, desde então, ele está sem manifestações do vírus. No entanto, os cientistas ainda se referem aos casos como uma remissão de longo tempo e sem a garantia de que a doença não irá retornar ao organismo em algum momento.

Ao que tudo indica, o uso de transplante do sangue do cordão umbilical promove vantagens importantes para o tratamento do HIV em adultos. “É notório os grandes avanços por meio do uso das células-tronco, no entanto, este tipo de procedimento é recomendado para doenças hematológicas graves. Quando possível, a escolha do doador de medula, que carrega uma mutação genética que confere resistência ao HIV, para um paciente com HIV, como em qualquer outra circunstância, necessita da compatibilidade e carrega também grande esperança de sucesso na cura do HIV”, informa o médico.

“Devido ao resultado positivo desses pacientes, que ficaram livres do vírus, a ciência leva em conta a possibilidade de realizar uma alteração genética nas células-tronco autólogas de pacientes com Leucemia, para que elas obtenham a resistência ao HIV antes de serem reinfundidas com a finalidade de transplante”, conclui Dr. Nelson.

Related posts

Abramge considera resultado econômico-financeiro divulgado pela ANS positivo,  mas sugere cautela antes de celebrar o resultado

Setembro Amarelo: especialista dá dicas sobre a importância dos tratamentos para saúde mental

Infectologista do Hospital de Clínicas Nossa Senhora da Conceição fala sobre novo desafio para a saúde brasileira