Covid-19 e as consequências para o meio ambiente: Especialistas divergem sobre efeito da pandemia no cenário ambiental

Relatos estão associados ao uso excessivo de EPI’s e desinfetantes, ao mesmo tempo que identificam melhora na qualidade do ar e diminuição do consumo de energia 

A chegada da Covid-19 mudou a vida da humanidade em 2020, e interferiu em diversas áreas, desde a vida pessoal a profissional. A saúde foi colocada em cheque assim como hábitos de higiene (e também culturais) ao redor do mundo. No Medscape, especialistas debatem sobre os efeitos da pandemia no meio ambiente, observando tanto as consequências negativas quanto as positivas também. Rafael Zarvos, especialista em Gestão de resíduos Sólidos e fundador da Oceano Resíduos, destaca que “o problema vai além do descarte inadequado de máscaras nas ruas. O ponto é que o descarte adequado que está entrando em colapso”. 

Por conta da pandemia, os Equipamentos de Segurança Individuais, EPI’S, passaram a ser produzidos em massa. Segundo a revistaScience, no início da pandemia, aumentou em 12 vezes a produção diária de máscaras de uso único pela demanda de profissionais da saúde que estavam trabalhando na linha de frente em Wuhan, na China (um montante de 116 milhões desse EPI por dia), e a publicação diz ainda que se os Estados Unidos seguir no ritmo que está, poderá produzir em dois meses a quantidade de resíduos hospitalares que geralmente tem em um ano. 

Em termos de resíduos hospitalares, a estimativa feita pelos estudiosos era de que, com a flexibilização total e normalização da vida com o vírus, o montante de máscaras descartadas adequadamente por mês (considerando a utilização de uma máscara por pessoa a cada dia) será de 130 bilhões. Mas será que os espaços designados possuem a capacidade para receber tal volume e dar a destinação correta? De 40 toneladas de itens descartados dos hospitais diariamente antes da pandemia, o número passou para 240 toneladas apenas na cidade de Wuhan, na China, por exemplo, fato que acabou gerando colapso no aterro sanitário do local. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o descarte e o tratamento prévio de material biológico seja feito por descontaminação. Ou seja, através de temperaturas entre 150 e 180 graus o material é desinfectado e depois segue para o aterro. “A geração de resíduos hospitalares é tamanha que não se está dando conta, de modo que muitos acabam incinerando o material biológico em aterros ou lixões“, aponta Zarvos. Quando esse material é queimado, são lançados gases chamados de poluentes orgânicos persistentes, que serão levados pela corrente de ar e contaminando-o. 

Além desse fator, outro problema é a projeção de crescimento do uso do plástico (também utilizado como proteção na luta contra a Covid-19) para o mercado global, que vai saltar de 900 bilhões de dólares por ano para 1 trilhão em 2021. “A produção do plástico no mundo hoje é muito superior à nossa capacidade de reciclagem deste tipo de resíduo. A conta não fecha, e considerando o cenário atual, é possível que em 2050 existam mais plásticos do que peixes no mar” explica o especialista

O outro lado da moeda 

Por outro lado, há também o lado positivo dessa mudança, como a redução no consumo dos insumos hospitalares, da produção de resíduos e, por consequência, a diminuição da emissão de gases que contribuem ao efeito estufa. Esses fatores se devem ao movimento nos hospitais, que foi reduzido nos períodos de quarentena e lockdown adotados pelos países, com a postergação de procedimentos eletivos e demais procedimentos cabíveis de adiamento. 

A melhora na qualidade do ar, a diminuição do consumo de energia, e a redução de emissão do monóxido de carbono pelo menor uso de automóveis, também foram possíveis a partir das medidas necessárias que a pandemia do coronavírus instigou. Nunca foi tão importante falar sobre o meio ambiente. Em tempos de pandemia, o mundo parece perceber cada vez mais que, se não cuidarmos do nosso planeta agora, as gerações futuras terão um grande problema para enfrentar. 

“As pequenas atitudes cabem única e exclusivamente à nós, no dia a dia, repensando os nossos hábitos e com a vontade de fazer algo pensando na preservação do meio ambiente. Estes pequenos desejos de mudanças muitas vezes acabam tendo um poder catalisador de transformação”, reforça Zarvos. Ele também destaca pequenas atitudes, que podem ter uma grande diferença se cada um fizer sua parte, como: Fechar a torneira enquanto escovar os dentes, tomar banhos mais curtos, optar por produtos eco-friendly, além de usar copos e canudos que não sejam descartáveis. 

Devemos lembrar que não temos plano B. Estamos chegando no esgotamento dos recursos naturais. O nosso grande desafio é equilibrar o crescimento da população e, consequentemente, o aumento por demanda de bens e a sustentabilidade. O caminho passa pela mudança no nosso comportamento e valorização da economia circular“, finaliza.