Publicada na Gut Microbes, pesquisa identificou que ingestão significativa de carboidratos e proteína animal pode complicar gestação e elevar o risco de obesidade para a criança
Um estudo publicado na revista científica Gut Microbes concluiu que tudo o que a mulher come durante a gestação molda a composição da microbiota intestinal do bebê. A pesquisa identificou, por exemplo, que a ingestão significativa de carboidratos e proteína animal pode complicar a gestação e elevar o risco de obesidade para a criança. A microbiota intestinal, popularmente chamada de flora intestinal, é o grupo de bactérias benéficas que auxilia a digestão de alimentos, elimina toxinas e produz moléculas ativas que educa o sistema imunológico a nos proteger de microorganismos que podem causar doenças.
No estudo, os pesquisadores acompanharam 86 gestantes, coletando dados durante a gravidez, e monitorando os seus bebês por 18 meses. Ao analisarem amostras de fezes colhidas durante o parto dos dois grupos, identificaram a existência de diferentes perfis da microbiota ou flora intestinal. Num dos grupos analisados, todas as mulheres possuíam uma dieta baseada em uma grande quantidade de fibra alimentar, ômega-3 e polifenóis, e foi observado uma maior presença de ruminococcus (um tipo de bactéria associado a propriedades anti-inflamatórias).
O segundo grupo incluía mães com uma ingestão significativamente maior de carboidratos, ácidos graxos saturados e proteína animal. Neste grupo, identificaram presença maior de bactérias ligadas a um maior risco de doenças e complicações na gravidez. Além disso, os pesquisadores observaram que os bebês de mães no último grupo tinham um risco maior de ficar acima do peso nos primeiros 18 meses de vida.
Até pouco tempo atrás, explica o doutor em Genética e Biologia molecular Luiz Felipe Valter de Oliveira, acreditava-se que o primeiro contato do recém-nascido com bactérias benéficas da mãe se dava durante o parto normal, por meio do canal vaginal e da pele materna. Estudos recentes, porém, sugerem que o bebê entra em contato com as bactérias maternas desde o útero, por meio do cordão umbilical, líquido amniótico, membranas fetais e mesmo do mecônio em bebês saudáveis.
“O desenvolvimento da microbiota intestinal humana é um processo complexo que já começa na gestação. Alguns estudos detectaram bactérias nas primeiras fezes do bebê, no cordão umbilical e no líquido amniótico”, reforça Olliveira, que também é CEO da startup de biotecnologia BiomeHub.