A inteligência e os desafios na gestão de dados na área da saúde

André França Cardoso*

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), até abril deste ano, as operadoras de planos de saúde no país tinham recebido a adesão de mais de 1 milhão de novos clientes durante a crise sanitária, totalizando um total de 48,1 milhão de segurados. Trata-se do maior número registrado em quase 5 anos. É evidente hoje a importância da seguridade de saúde no país. E não há como os planos de saúde serem oferecidos aos seus clientes sem o devido cuidado na gestão de dados de seus usuários.

Muito além de atuar em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), preocupar-se com a redução e o controle de riscos nesta gestão coloca as operadoras à frente de seus pares no mercado. As empresas cada vez mais se deparam com a necessidade de serem responsáveis com seus sistemas e ferramentas que geram informações importantes para o seu bom funcionamento cotidiano.

Para entender a importância da governança de dados, é necessário compreender as vantagens estratégicas trazidas por esse processo. O que ocorre é que o gerenciamento de dados permite que as operadoras possam enxergar à frente dos seus pares no mercado. A gestão permite, por exemplo, que elas prevejam se um segurado de um plano de saúde tem uma maior ou menor propensão para desenvolver diabetes, por exemplo, ou de necessitar realizar uma cirurgia de alto risco por conta de determinada doença. Mas as possibilidades trazidas pela inteligência de dados vão muito além disso. Aliada ao acompanhamento médico, o gerenciamento auxilia na identificação de casos e a como atuar de forma preventiva em determinadas situações descritas pelos clientes. As operadoras e os segurados de planos de saúde saem beneficiados pelo uso da tecnologia de gerenciamento e tratamento de dados. É um exemplo de como a tecnologia atualmente pode ser utilizada para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos de uma sociedade.

Contudo, se esse processo tecnológico traz vantagens para as operadoras e os seus beneficiários, vale lembrar que também carrega consigo responsabilidade. Isto porque o funcionamento das operadoras depende de dados de qualidade, ou seja, que sejam consolidados e bem tratados. E há uma diversidade de informações coletadas: os cadastros dos beneficiários, exames realizados pelos pacientes, despesas médicas, entre outras, que permitem a montagem de um banco de informações médicas personalizadas de cada paciente. São informações que, muitas vezes, são recebidas fora de padrões de organização e de sistemas diferentes, por conta da variedade de fontes existente, o que torna a gestão um verdadeiro desafio para as operadoras, que deve ser cumprido por elas com total êxito.

Apesar do momento difícil que o país vive, é relevante observar que a pandemia da Covid-19 acelerou a transformação digital e trouxe novos desafios para as empresas brasileiras na área da saúde e fez com que elas acordassem para a importância de investir na qualidade da gestão de dados.

Em um mundo pós-pandemia, há uma tendência de que as empresas na área da saúde cada vez mais percebam que vale a pena enfrentar o desafio da uniformização dos dados recebidos. Um balanço das experiências vividas durante o período demonstrará que investir em transformação digital antecipará o retorno desse investimento em um grande aumento da receita.

Por fim, o futuro caminha para empresas cada vez mais dependentes de um mapeamento e uma gestão de dados eficazes e estratégicas. Saúde e tecnologia foram, sem dúvidas, os temas mais discutidos nos últimos dois anos. E as empresas que atuam e estão na órbita do setor de saúde devem aproveitar esse momento de transformação para planejar e investir em inteligência e na gestão responsável de seus dados.


*André França Cardoso é CEO da Assesso, provedora de software e consultoria para Gestão da Informação e Qualidade de Dados, que atende empresas como Natura, Gol, Santander e Honda