Com base na prevenção, país tem meta de reduzir a doença em 90% até 2030
Consideradas silenciosas, as hepatites virais atingiram mais de 680 mil brasileiros nos últimos 21 anos, conforme o Ministério da Saúde. Dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, publicado em 2021, apontam que, entre 2000 e 2019, cerca de 79 mil pessoas tiveram óbitos associados às hepatites dos tipos A, B, C e D.
A infectologista Tassiana Rodrigues dos Santos Galvão, que atende no Hospital Estadual Francisco Morato, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, explica as razões pelas quais as infecções são conhecidas por letras.
“Os vírus receberam a nominação em ordem de descoberta, sendo atribuída uma letra para cada nova hepatite: A, B, C, D e E. As mais comuns no Brasil são as hepatites A, B e C, sendo a D mais frequente na região Norte.”
Segundo a especialista, apesar da alta taxa de mortalidade, nos últimos anos, o tratamento contra as hepatites evoluiu muito, e as chances de cura superam 95%, quando a assistência é realizada corretamente.
A campanha Julho Amarelo tem como objetivo alertar as pessoas acerca deste grave problema de saúde pública. “A cor dedicada ao mês foi escolhida por representar um sinal frequentemente associado à doença: a icterícia, como é conhecida o amarelidão da pele”, afirma Dra. Tassiana.
No entanto, a médica ressalta que as manifestações são muito variáveis. “Além do amarelidão, podem ocorrer mal-estar, fraqueza, náuseas, vômitos, dores abdominais e alterações na coloração da urina e das fezes.”
Casos de hepatites podem ser graves, com estágios fulminantes, necessidade de transplante e evolução para câncer hepático.
“No caso da B, a maioria das pessoas que têm contato com o vírus consegue controlar a infecção e a evolução. Porém, os pacientes que ‘cronificam’ apresentam uma doença silenciosa, que, se não tratada, pode evoluir para cirrose e/ou câncer de fígado. Já com a hepatite C, as chances de cronificação são ainda maiores, tal como o risco de desenvolver cirrose e câncer hepático”, reitera.
Prevenção e contágio
As hepatites podem ser transmitidas por meio de relações sexuais ou exposição direta com o sangue infectado, através de objetos contaminados, como agulhas, seringas, alicates etc., transfusões sanguíneas ou durante o parto.
Dra. Tassiana explica que a prevenção pode ser feita de forma simples, com hábitos como consumir apenas água tratada, manter boa higiene e utilizar preservativos durante as relações sexuais.
“Ao realizar tatuagens e piercings, é indicado buscar estúdios confiáveis, que trabalhem com agulhas descartáveis e jamais compartilhem objetos pessoais. Isso serve também para manicure.”
Para as hepatites dos tipos A e B, há vacinas que podem ajudar na prevenção. Por isso, é importante estar com elas em dia.
Tratamento
Conforme a especialista, o tratamento das hepatites é realizado por meio de antivirais, além de medidas de prevenção, como evitar medicações que possam prejudicar a saúde do fígado.
“Pacientes que já convivem com a doença devem realizar um acompanhamento adequado com médicos infectologista, gastroenterologista ou hepatologista”, ressalta.
Nos últimos anos, o tratamento para os casos do tipo C sofreu mudanças significativas. Atualmente, existem drogas de ação direta e esquema terapêutico, dependendo do genótipo e da fase clínica do paciente.
Ambos são oferecidos de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assim como os testes capazes de diagnosticar a doença, que podem ser realizados de forma rápida e discreta em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS).
Até 2030, o Brasil tem uma meta, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2016, de combater as hepatites virais, reduzindo novas infecções em 90% e a mortalidade atribuível à doença em 65%.
“Para tanto, o diagnóstico precisa ser cada vez mais ágil. O teste rápido é a forma mais ágil de identificar os tipos B e C de hepatites”, alerta Dra. Tassiana.
Segundo a médica, caso o diagnóstico seja positivo para a doença, não há razões para pânico. “Hoje em dia, os medicamentos são muito bem tolerados, com raros efeitos colaterais, e as chances de cura, na maioria dos casos, são superiores a 95%”, finaliza.