O sistema de saúde vive em constante pressão. Embora algumas barreiras tenham sido quebradas nesses últimos anos, ainda existem muitos desafios a serem superados. E um dos principais é garantir a segurança do paciente.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, no relatório Patient Safety, globalmente, até quatro em cada 10 pacientes são prejudicados nos cuidados de saúde primários e ambulatoriais, sendo até 80% deles por danos evitáveis. Os erros mais graves estão relacionados ao diagnóstico, prescrição e uso de medicamentos.
Nos países da OCDE, 15% da atividade e despesas hospitalares totais são resultado direto de eventos adversos. Os erros de medicação são uma das principais causas de lesões e danos evitáveis nos sistemas de saúde: globalmente, o custo associado a isto foi estimado em US ﹩ 42 bilhões anualmente.
Já no Brasil, de acordo com estudo da Universidade Federal do Rio Grande Sul e do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, quase 60% das prescrições de medicamentos podem gerar alguma morbidade.
Embora este processo comece bem antes do momento em que a medicação chega até o paciente, é importante que médicos, time de enfermagem, farmácia clínica e os pacientes tenham acesso a informações integradas e harmonizadas que os apoiem nas decisões. Cada um com sua especificidade e no momento em que se faz necessário.
Mas como levar informação baseada em evidências para todos os stakeholders?
A tecnologia como forte aliada na saúde
A medicina vive período de constantes mudanças. O que antes demorava um bom tempo para acontecer e se desenvolver, hoje ocorre a uma grande velocidade. Pode-se dizer que os hospitais são um dos negócios mais complexos de serem geridos.
E a tecnologia emerge nesse cenário como forte aliada. Não é possível imaginar uma instituição de saúde sem esses recursos.
Mas nem sempre foi assim. Por um tempo houve uma certa resistência com relação à adoção da tecnologia pelos profissionais de saúde. Foi necessário percorrer um longo caminho.
Hoje, o emprego da tecnologia está diretamente relacionado à qualidade e segurança assistencial prestada ao paciente. Ela ajuda a padronizar os processos e, ao mesmo tempo, viabilizar um atendimento personalizado, diminuindo erros de diagnósticos e mantendo uma relação mais humanizada. Lembrando que um paciente, em uma ida ao hospital, passa por no mínimo cinco profissionais, todos com conhecimentos distintos, porém com uma única função: obter um desfecho clínico bem-sucedido.
Sem o apoio da tecnologia, por exemplo, um farmacêutico clínico consegue analisar no máximo cinco prontuários por dia.
A tecnologia é também fator impactante no que tange à redução de custos e sustentabilidade, que é o segundo maior objetivo de uma instituição de saúde (o primeiro é a segurança do paciente obviamente). O grande desafio é conseguir que a tecnologia passe despercebida e os sistemas sejam cada vez menos intrusivos, integrados ao fluxo de trabalho e levem informação correta, no momento certo, sem atrapalhar o médico e o farmacêutico.
Entendo a importância da rastreabilidade e da informação
Não adianta, por exemplo, o farmacêutico clínico analisar todos os pormenores da prescrição e na ponta o paciente receber o medicamento errado.
Por isso, é importante que o médico durante o atendimento concatene e avalie um conjunto de informações, tanto sobre o que está sendo prescrito, como a respeito das condições clínicas; exames mais adequados naquele caso; previsão de alta; abordagens possíveis; dosagens; alergias; duplicidades de drogas; interações medicamentosas, etc.
O objetivo é que o paciente volte para casa, siga com o tratamento, ciente não só da finalidade daquela medicação, como também dos efeitos colaterais, das interações com outras medicações, com fatores étnicos, comorbidades, idade, entre outros, que poderiam resultar em uma nova internação.
O farmacêutico clínico, por sua vez, também precisa ser alertado e ter condições de analisar os dados. Daí a importância de contar com sistemas e barreiras de checagem para garantir que a dose chegue no momento certo.
Em uma etapa posterior, também é necessário que a enfermeira responsável pela administração da medicação tenha acesso a informações relevantes, isso inclui a diluição adequada, a forma como o medicamento deve ser ministrado, entre outras.
A poderosa tríade: medicina baseada em evidência, a tecnologia e a integração de sistemas
Contar com a medicina baseada em evidência e ferramentas capazes de usar de inteligência artificial, por exemplo, são cruciais para propiciar a fármaco segurança e também a fármaco economia. Trazer alertas que não sejam vagos ou que se restrinjam às informações da bula, sem validação científica, são fatores para qualidade e segurança e acima de tudo sustentabilidade, em especial em sistemas públicos. Além disso, o profissional não pode passar mais tempo no computador, do que com o próprio paciente.
Prover conhecimento técnico e científico a toda equipe de saúde, de forma padronizada, é fundamental nesse sentido. As soluções de apoio à decisão clínica agregam valores consideráveis quando integradas aos sistemas de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), aprimorando de maneira prática a efetividade clínica. Isso é essencial para suportar os usuários de saúde (médicos, enfermeiros e farmacêuticos), na entrega do melhor cuidado a seus pacientes.
Tais soluções devem basear-se em evidências clínicas e serem aplicadas de forma específica, de acordo com o perfil demográfico e condições clínicas (idade, sexo, peso, doenças ou condições crônicas pré-existentes, resultados de exames laboratoriais), a cada um dos pacientes, individualmente. Além de serem intuitivas e acessíveis.