Canabinóides podem ter efeitos antitumorais

Segundo especialista, a cannabis tem ação supressora sobre as células cancerígenas e pode potencializar os efeitos dos tratamentos convencionais; estudos ainda estão em fase inicial

Ao longo dos últimos anos, pesquisas sobre os efeitos terapêuticos da cannabis no tratamento de diferentes doenças, inclusive do câncer, vêm sendo desenvolvidas em todo o mundo. O uso medicinal da planta já é feito em especialidades como a neurologia e a psiquiatria porque ela tem finalidades calmantes, neuroprotetoras e neuro regeneradoras. Além disso, os benefícios do uso como tratamento adjuvante na oncologia também já foram comprovados. Entre eles, estão a melhora do sono, do apetite, do humor e dos efeitos colaterais causados pela quimioterapia, como náuseas e vômitos – essas ações levam a uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes.

Já os mecanismos envolvidos na ação antitumoral dos canabinóides estão sendo testados em estudos “in vitro” e em alguns estudos em humanos e apontam para resultados positivos. Um levantamento divulgado na publicação científica suíça MDPI, por exemplo, sugere que os canabinóides têm efeitos antitumorais por suprimir a proliferação, a migração e a angiogênese do tumor, agindo direta e seletivamente sobre as células doentes.

De acordo com a médica Maria Teresa Jacob, membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC), os canabinóides também teriam a capacidade de potencializar os efeitos dos tratamentos convencionais. “A combinação desses agentes com a quimioterapia e a radioterapia pode aumentar a efetividade do tratamento. Estudos realizados em humanos portadores de glioma, um tipo de tumor cerebral muito agressivo, sugerem que o THC e o CBD são capazes de diminuir a chance de recidiva da doença”, explica. Além do glioma, ainda segundo a médica, existem evidências de que os canabinóides são eficazes no tratamento do câncer de próstata, de mama e da leucemia.

No entanto, a profissional aponta que “São necessários mais estudos em humanos para sabermos se a cannabis tem efeito supressor em outros tipos de tumores. O que se sabe até agora é que eles são capazes de reduzir a probabilidade de metástase porque inibem o crescimento e a migração das células doentes, o que já é uma ótima notícia”. Os estudos científicos estão em fase inicial e por isso a recomendação dos especialistas é que a cannabis não seja utilizada como monoterapia.

De acordo com a Dra. Maria Teresa, o uso da cannabis em pacientes oncológicos praticamente não tem contraindicações. “Apesar disso, existe uma discussão em torno da imunoterapia nesses pacientes porque, como os canabinóides podem ter ação imunossupressora, poderiam diminuir a eficácia da imunoterapia. Porém ainda não existe consenso sobre isto, conta. Ela finaliza explicando que, normalmente quando aplicados por via oral, os canabinóides não têm efeitos colaterais prejudiciais, porém, em todos os casos, só devem ser usados sob orientação e supervisão médica.

Sobre a Dra. Maria Teresa Jacob

Atua no tratamento de Dor Crônica desde 1992 e há alguns anos em Medicina Canabinóide para diversas patologias em sua clínica localizada em Campinas. A Dra. Maria Teresa Jacob é formada pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, turma de 1982, com residência médica em Anestesiologia no Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas. Pós-graduada em Endocanabinologia, Cannabis e Cannabinoides pela Universidade de Rosário, Argentina. Possui Título de Especialista em Anestesiologia, Acupuntura e Dor. Além de especialização em Dor, na Clinique de la Toussaint em Strassbourgo, na França, em 1992; especialização em Cannabis Medicinal e Saúde, na Universidade do Colorado e Cannabis Medicinal, no Uruguai. Membro da Sociedade Internacional para Estudo da Dor (IASP), da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), da Sociedade Internacional de Dor Musculoesquelética (IMS), da Sociedade Européia de Dor (EFIC), da Society of Cannabis Clinicians (SCC) e da International Association for Canabinoid Medicines (IACM).