Estudos apontam que o excesso de peso, que leva ao quadro de gordura no fígado, é a principal causa de doença crônica do órgão. Um estudo recente publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) — realizado com um grupo de mais de 1,1 mil pacientes — comprovou que a cirurgia bariátrica e seus resultados metabólicos reduziram em 90% o risco de pacientes com obesidade desenvolverem a doença hepática grave, a cirrose, o câncer de fígado (hepatocarcinoma) ou morte relacionada. Além do controle da Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA), os pacientes também apresentaram redução de 70% em risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC), se comparado ao grupo de pacientes com obesidade que manteve apenas o tratamento clínico.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCBM), Dr. Fábio Viegas, a cirurgia bariátrica vem se mostrando como mais uma importante ferramenta para o tratamento da esteatose e da esteatohepatite. “A única maneira de controlar a doença e evitar a evolução para cirrose é perder peso e melhorar dieta. A cirurgia bariátrica é uma excelente ferramenta no controle dessa doença”, diz Viegas.
Para a nutricionista e pesquisadora Silvia Leite Faria, uma pequena perda de peso no pré-operatório do paciente candidato à cirurgia bariátrica, traz contribuições para o fígado do paciente com obesidade grave.
“Uma perda de peso de 5% a 10% antes da cirurgia, já ajuda a desinflamar o fígado do paciente que possui esteatose hepática, permitindo ao cirurgião um melhor acesso a cavidade abdominal e melhores resultados clínicos e cirúrgicos”, disse Silvia.
Esse foi um dos temas abordados no II Simpósio de Cirurgia Bariátrica do Centro-Oeste realizado em Brasília. Cirurgiões, endocrinologistas, hepatologistas, infectologistas, entre outros profissionais que atuam no tratamento cirúrgico da obesidade — incluindo equipes multidisciplinares — discutiram os avanços da obesidade e os efeitos positivos da perda de peso para remissão de diferentes doenças, entre elas a cirrose não alcoólica. A programação científica do evento, que teve quase 400 inscritos no formato presencial e online, abordou a obesidade em todos os aspectos — psicológico, clínico, nutricional e físico, e a importância da retomada dos tratamentos após a pandemia da COVID-19.
“A atualização científica neste momento é fundamental para o atendimento ao paciente multidisciplinar do paciente que sofre com a obesidade”, afirmou o cirurgião do Mato Grosso e coordenador do Conselho de Especialidades Associadas da SBCBM, Juliano Canavarros.
O Diretor Médico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Luiz Fernando Córdova, um dos coordenadores do evento, esclarece que o Simpósio retoma as atividades científicas de equipes que atuam no atendimento dessa população e traz novas perspectivas sobre o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2.
“Nestes dois últimos anos vimos o aumento da obesidade e a paralisação dos tratamentos em todo o Brasil. Por isso, neste evento, priorizamos trazer aos participantes uma programação para debater todas as etapas, desde os critérios de indicação da cirurgia bariátrica e metabólica, passando pela escolha dos profissionais, do centro cirúrgico e protocolos de pós-operatório”, ressaltou Córdova que atua em Brasília.
O presidente do Capítulo Goiás, Leonardo Sebba, falou sobre a importância da informação de qualidade, com a apresentação de novos estudos científicos e abordagens atualizadas.
“Isso contribui para uma melhor eficácia dos tratamentos e na confiança do paciente e na remissão de diversas comorbidades, como o diabetes tipo 2, a hipertensão, problemas cardiovasculares, entre outros”, explica Sebba.
Índices de obesidade na região – Segundo dados da última pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2021, a média da população adulta com obesidade no Centro-Oeste é de 22%. Campo Grande registra média de 20,2%; Cuiabá, 23,8%; Goiânia, 23,8% e o Distrito Federal 22,6% da população com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 kg/m².
Em pessoas com IMC acima de 30, sem sucesso com o tratamento clínico, estudos demonstram que a cirurgia bariátrica é o tratamento mais eficaz para o controle da obesidade. No entanto, o acesso ao procedimento se tornou mais difícil nos últimos anos enquanto pacientes enfrentam o agravamento de suas doenças.
Além da melhora do quadro de gordura no fígado, após a cirurgia, estes pacientes geralmente precisam de menos, ou nenhuma, medicação para manter outras comorbidades, como a hipertensão e o diabetes tipo 2, controladas.