“Poderia ser obrigatório que todos os hospitais passem por um processo de acreditação, o que seria uma medida primordial para aprimorar a qualidade e a segurança do atendimento médico no Brasil”, comenta o infectologista, Antonio Tadeu Fernandes
A campanha “Salve Vidas: Higienize suas mãos”, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é celebrada no dia 5 de maio, com o objetivo de destacar a importância global da higiene das mãos na saúde e unir esforços para melhorar essa prática em todo o mundo.
De acordo com a OMS, a higienização adequada das mãos desempenha um papel vital na prevenção de infecções relacionadas à saúde, na propagação da resistência antimicrobiana e em outras ameaças à saúde. A infecção adquirida durante a assistência à saúde é um desafio significativo em escala global, sendo que pacientes em países de baixa e média renda têm o dobro de chances de contrair infecções em comparação com pacientes em países de alta renda (15% e 7%, respectivamente); o risco é ainda maior em unidades de terapia intensiva (UTIs), especialmente entre recém-nascidos, com uma probabilidade de 2 a 20 vezes maior.
Uma das razões para isso é que, em alguns países de baixa renda, apenas um em cada dez profissionais de saúde pratica a higienização adequada das mãos ao cuidar de pacientes com alto risco de infecções associadas à UTI, muitas vezes devido à carência de instalações apropriadas para essa finalidade.
No Brasil, há alguns anos, cerca de 10% dos pacientes internados desenvolviam alguma infecção, sendo a falta de higienização das mãos um dos principais vetores. “O simples ato de lavar as mãos pode evitar centenas de mortes e infecções. No entanto, infelizmente, muitos profissionais de saúde ainda são resistentes a esse protocolo primordial, talvez devido ao foco extremo em socorrer o paciente, o que pode levá-los a esquecer de lavar as mãos ou aplicar uma solução alcóolica. O ritmo acelerado de trabalho e a falta de pessoal também podem contribuir para esse descuido com a higienização das mãos, o que acaba facilitando a contaminação dos pacientes”, pontua Antonio Tadeu Fernandes, médico graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com residência em doenças infecciosas e mestre em Ciência pelo Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP.
Para o doutor Tadeu, a prática de higienizar as mãos representa uma quebra de paradigma de extrema importância. Ele destaca: “Muitas vezes, o profissional de saúde acredita estar salvando vidas, mas se não estiver realizando a higiene correta, pode causar uma infecção e, em casos mais graves, até mesmo a morte. Por outro lado, quando o procedimento é realizado de forma correta, a incidência de infecção reduz consideravelmente”.
Doenças evitáveis – A OMS destaca que até 40% dos casos de diarreia, gripe e conjuntivite podem ser evitados com a simples prática de lavar as mãos corretamente. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a diarreia e a desidratação estão entre as cinco principais causas de morte em crianças menores de dois anos em todo o mundo.
Segurança do Paciente: Embora a higienização das mãos seja uma responsabilidade da equipe médica durante a realização de procedimentos, os pacientes também têm o direito e o dever de prezar por sua segurança. Infelizmente, muitas vezes os pacientes se sentem acuados e temem ser repreendidos pelos profissionais, tanto médicos quanto enfermeiros, ao solicitarem a higienização.
Investimento e redução de custos – A higiene das mãos salva milhões de vidas a cada ano quando realizada no momento adequado e de maneira correta durante a prestação de assistência à saúde. Além disso, melhorar a higiene das mãos nos ambientes de assistência à saúde economiza aproximadamente US$ 16,5 em despesas de saúde para cada dólar investido.
Importância da acreditação – De acordo com Gilvane Lolato, gerente de Operações na Organização Nacional de Acreditação (ONA), a acreditação estabelece padrões rigorosos para a higienização das mãos, oferecendo programas de capacitação para profissionais de saúde e monitorando os resultados obtidos. “Além disso, a ONA realizamos avaliações regulares da disponibilidade de insumos e infraestrutura necessários para facilitar a execução da higienização, como a presença e o funcionamento adequado de dispensadores de álcool em gel e pias”, ressalta.
A organização também se empenha em promover a capacitação das equipes de saúde, monitorar a adesão aos protocolos de higienização e os resultados alcançados, e implementar melhorias com base nas taxas de infecção da instituição, surtos identificados e perfil microbiológico dos pacientes. Essas medidas visam garantir um ambiente hospitalar mais seguro e reduzir o risco de infecções associadas à falta de higienização das mãos.
Para doutor Tadeu, poderia ser obrigatório que todos os hospitais passem por um processo de acreditação, o que seria uma medida primordial para aprimorar a qualidade e a segurança do atendimento médico no Brasil. “Atualmente, menos de 5% dos hospitais, efetivamente, adotam padrões reconhecidos nacionalmente de qualidade e segurança do paciente, o que cria lacunas na prestação de cuidados e aumenta os riscos para os pacientes”.
Ainda, segundo o doutor, em ambientes onde não há procedimentos e protocolos estabelecidos, a segurança do paciente fica comprometida. “A falta de padronização pode resultar em erros médicos, infecções hospitalares e outros riscos para os pacientes. Por outro lado, quando há humanização no atendimento e protocolos bem definidos e seguidos, o resultado é a melhoria da segurança do paciente. Isso inclui não apenas a higienização adequada das mãos, mas também a comunicação eficaz entre a equipe médica, o envolvimento do paciente no processo de cuidado e o seguimento de protocolos clínicos baseados em evidências”, finaliza.
Dicas da ANVISA – Como realizar a higienização simples das mãos:
1.- Abra a torneira e molhe as mãos, evitando encostar na pia.
2.- Aplique na palma da mão quantidade suficiente de sabonete líquido para cobrir todas as superfícies das mãos (seguir a quantidade recomendada pelo fabricante)
3.- Ensaboe as palmas das mãos, friccionando-as entre si.
4.- Esfregue a palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda (e vice-versa) entrelaçando os dedos
5.- Entrelace os dedos e friccione os espaços interdigitais
6.- Esfregue o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta (e vice-versa) segurando os dedos, com movimento de vai-e-vem
7.- Esfregue o polegar direito, com o auxílio da palma da mão esquerda (e vice-versa), utilizando movimento circular
8.- Friccione as polpas digitais e unhas da mão esquerda contra a palma da mão direita, fechada em concha (e vice-versa), fazendo movimento circular.
- Esfregue o punho esquerda, com auxílio da palma da mão direita (e vice-versa), utilizando movimento circular
10.- Enxágue as mãos, retirando os resíduos de sabonete. Evite contato direto das mãos ensaboadas com a torneira.
11.- Seque as mãos com papel-toalha descartável, iniciando pelas mãos e seguindo pelos punhos
Para a técnica de higienização antisséptica das mãos, seguir os mesmos passos e substituir o sabonete líquido comum por um associado a antisséptico.