Dia da mamografia: é preciso entender que detecção precoce salva vidas

O oncologista Fernando Medina destaca a importância da compreensão sobre a necessidade de realizar o exame regularmente

A informação é arma essencial para melhorar as estatísticas que fazem do câncer de mama a principal causa de mortes pela neoplasia em mulheres. O Dia Nacional da Mamografia, celebrado em 5 de fevereiro, tem como objetivo também compartilhar a compreensão de que há formas simples e eficazes de prevenir e vencer o câncer de mama. “Se todas entendessem o quanto o diagnóstico precoce é valioso no processo de cura, com certeza a adesão às mamografias regulares seria muito maior”, acredita Fernando Medina, oncologista clínico do Centro de Oncologia Campinas. “A compreensão é parceira da cura”, reforça.

Levantamento do Ministério da Saúde sobre as mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos anos indica que o Brasil, em vez de avançar nos números, retrocedeu, muito em parte em razão da pandemia do novo coronavírus.

No estado de São Paulo, por exemplo, em 2017 foram 733.425 exames, total que caiu para 727.514 no ano seguinte e subiu para 756.526 em 2019. Em 2020, no primeiro ano da pandemia, os exames realizados despencaram para 477.987, e depois voltaram a subir em 2021, atingindo 608.489, mas ainda bem abaixo do período pré-pandêmico.

O SUS indica mamografias de rastreamento, que são aquelas capazes de contribuir para a detecção precoce da doença, dos 50 aos 69 anos de idade e a cada dois anos em mulheres sem sinais e sintomas de câncer de mama. Ocorre que há situações que pedem o início do rastreamento mais cedo, quando, por exemplo, há história da doença na família ou determinadas pré-disposições que podem ampliar os riscos.

“É importante procurar um médico e seguir suas indicações, porque cada situação é única. O estilo de vida influencia em cerca de 75% dos casos de câncer de mama. Alterações genéticas, hereditariedade e outras causas respondem pelo restante. E o que é importante: nós podemos sim agir contra esses fatores de risco”, reforça Medina.

Na linha de frente da prevenção primária, diz o oncologista, está o estilo de vida saudável: boa alimentação, controle da ingestão de bebidas alcóolicas, sobretudo destilados, e atividades físicas regulares. “Exatamente tudo que faz bem para a saúde em geral e contribui para evitar a obesidade, um outro importante fator de risco do câncer de mama. A obesidade, por sinal, acarreta tecido mamário denso, com muitas glândulas e quanto mais glândulas, maiores as chances”, resume.

A prevenção primária, indica Medina, deve se somar à prevenção secundária para poder abraçar de forma eficiente a tarefa de minimizar os riscos do câncer de mama. A prevenção secundária envolve todas as ações voltadas ao diagnóstico precoce. Conhecer a própria mama por meio do autoexame contribui para detectar anormalidades. Porém, a mamografia é ainda mais eficiente.

“A mamografia tem a capacidade de detectar o câncer quando ele ainda não é sensível ao toque, o que resulta em um diagnóstico ainda mais precoce e com melhores chance de resposta ao tratamento”, confirma. Embora atinja mulheres de todas as idades, o câncer de mama é mais prevalente a partir dos 40 anos. As mulheres negras costumam apresentar tipos mais agressivos da doença.

Todas as anormalidades na mama precisam ser investigadas por meio de mamografias e outros exames, embora mais de 80% dos achados de mama não sejam câncer, aponta o oncologista do COC.

O Centro de Oncologia Campinas fez um levantamento de 920 casos de câncer de mama atendidos recentemente na unidade. Os resultados confirmam que a detecção precoce e o tratamento correto, somados aos avanços da medicina, podem fazer a diferença de vida para as mulheres.

Segundo o estudo, 85% dessas pacientes se enquadraram na taxa de sobrevida de 10 anos. Ou seja, viveram ao menos dez anos a partir do diagnóstico da doença.

 Mamografias no Brasil

Ocorre que a detecção precoce está longe de ser o caminho escolhido pela maioria das mulheres. O setor de mastologia do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz divulgou em outubro do ano passado um levantamento que mostra que apenas um quarto das mulheres com idade entre 50 e 69 anos realiza exame de rastreamento de câncer de mama no Brasil. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que ao menos 70% das mulheres assintomáticas façam mamografia a fim de reduzir a mortalidade

As mulheres da região Sudeste do Brasil, a mais populosa do país, são as que têm maior acesso aos exames de mamografia. É no Sudeste que concentra a grande maioria dos mamógrafos em operação, segundo levantamento do Ministério da Saúde.

O último levantamento do Ministério aponta que em maio de 2022, o Brasil contava com 6.642 mamógrafos, dos quais 6.377 em uso. Na região Sudeste são 2.815 em operação, contra 582 da região Centro-Oeste, 965 da Sul, 399 da Norte e 1.616 da Nordeste.

 Dúvidas

O médico do Centro de Oncologia Campinas, André de Moraes, responde a três dúvidas frequentes a respeito da mamografia

  1. Como interpretar os resultados da mamografia?

Você não precisa e nem deve tentar interpretar resultados de exame e isso vale também para a mamografia. Como qualquer exame radiológico, ele é laudado pelo radiologista, mas é interpretado pelo médico responsável, no caso o mastologista ou o oncologista, que saberão avaliar o resultado à luz da condição de cada paciente. Daí, serão orientadas as condutas frente aos resultados.

 2- O que significa classificação BI-RADS

Existe uma classificação radiológica para mamografia, assim como para Ultrassonografia e Ressonância Magnética da mama, que é conhecida com BIRADS. BIRADS 0, 1 e 2 são considerados de baixo risco para o diagnóstico de câncer. Os classificados como 3 são passíveis de acompanhamento e os de classificação 4 e 5 demandam a realização de biópsia para firmar o diagnóstico. Há uma classificação BIRADS 6 cujas características são diagnósticas para câncer. Mesmo estas exigem a biópsia para a confirmação

 3- Qual o aspecto do câncer de mama na mamografia?

O aspecto radiológico de uma lesão neoplásica na mamografia varia bastante. Desde a ausência de alterações, e nestes casos outros exames serão realizados, até lesões de aspecto infiltrativo, espiculado, como se fosse uma mancha causada pelo impacto de um giz em uma tela negra.