Dia mundial reforça importância da doação de medula óssea

De Rafael

Mudança no cadastro de idade limite do registro passou dos 55 para 35 anos; chance de encontrar doador compatível não familiar é de 1 em 100 mil no Brasil

“Doar medula óssea deveria fazer parte da cultura dos brasileiros, mas o ato é pouco divulgado entre das pessoas”, diz Marta Lemos, hematologista e Coordenadora Médica do Serviço de Hemoterapia e Terapia Celular do A.C. Camargo Cancer Center. Os números reforçam a observação: 1 em 100 mil é a chance de se encontrar no Brasil uma medula óssea compatível com a de outra pessoa que não é da família, mas pode ser 1 em 1 milhão se  tiver que procurar no Exterior. Cerca de 25% dos pacientes que precisam de transplante de medula óssea encontram o doador ideal no núcleo familiar. O restante depende de parentes parcialmente compatíveis ou de doadores voluntários dos bancos de medula. Atualmente são, em média, 850 pacientes em busca de doador não aparentado, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).

“O número de cadastros já não era alto e com a Covid-19 caiu mais ainda”, observa Marta. De acordo com o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). O esforço em trazer os interessados ao REDOME, coordenado pelo INCA, órgão auxiliar do Ministério da Saúde, é incansável. “Quanto mais doadores cadastrados, mais chances de encontrar alguém compatível”, diz a médica. Em 2020, 182 foi o número de voluntários que realizaram o procedimento de doação e, em 2021 (até agosto), 122. As campanhas são feitas durante o ano todo, mas são intensificadas em setembro. No terceiro sábado do mês – que em 2021 é no dia 18 – é celebrado o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea. Até 31 de agosto eram 5.419.941 brasileiros cadastrados no registro, que teve mudanças.

Nova portaria do Ministério da Saúde entrou em vigor em junho e inclui a alteração da idade limite para cadastro no banco nacional: de 55 anos para 35. Estudos indicam que doadores não-aparentados mais jovens melhoram os resultados do transplante. As demais condições para o cadastramento não sofreram alteração: ter entre 18 e 35 anos, boa saúde e não apresentar doenças como as infecciosas ou as hematológicas. O limite para efetivar a doação de medula óssea não- aparentada também não foi alterado, ou seja, todos os doadores (mesmo os que irão se cadastrar a partir do novo critério de idade) poderão realizar a doação até 60 anos.

SOBRE O TRANSPLANTE

O transplante de medula óssea (TMO) pode beneficiar pacientes com cerca de 80 diferentes doenças, entre elas, leucemias, linfomas, mieloma múltiplo, aplasia de medula e imunodeficiências. O procedimento consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais de medula óssea (células-tronco), com o objetivo de reconstituição de uma medula saudável. O TMO pode ser autólogo (autogênio) – ou seja, quando a medula vem da própria pessoa – ou alogênico, quando vem de um doador. O médico do paciente determina qual o tipo de transplante será realizado, de acordo com a doença. Quando o tratamento de escolha é o transplante alogênico, inicia-se a busca de doadores entre os familiares. Para saber se o doador é compatível, são realizados testes de sangue, chamados de exames de histocompatibilidade (HLA). Caso não exista doadores entre os parentes, começa busca por voluntários.

No momento do cadastro do doador, além do HLA, são realizados avaliação clínica e outros exames laboratoriais para garantir a segurança dele e do paciente. O transplante pode ser por aférese, que dura cerca de 4 a 5 horas, ou coleta de células por meio de punção de medula óssea em centro cirúrgico, quando se colhe a medula de dentro do osso. “A legislação e a avaliação para a doação são muita rígidas, com triagem específica. Se o doador tiver alguma ressalva, a coleta não é realizada”, explica Marta Lemos, hematologista e Coordenadora Médica do Serviço de Hemoterapia e Terapia Celular do A.C. Camargo Cancer Center.

COMO SER UM DOADOR

Para se tornar um doador de medula óssea é necessário ter entre 18 e 35 anos, estar em bom estado geral de saúde, não ter doença infecciosa ou incapacitante, não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico. Algumas outras complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado caso a caso. O primeiro passo é realizar o cadastro no hemocentro mais próximo de sua casa, onde será feita a coleta de amostra de sangue (10ml) para o exame de compatibilidade (HLA). Na cidade de São Paulo, o cadastro pode ser realizado no Hospital São Paulo – Unifesp (Rua Dr.° Diogo de Faria, nº 824) e no Hemocentro da Santa Casa de São Paulo (Rua Marquês de Itu, 579).

Os dados do doador são inseridos no cadastro do REDOME (https://redome.inca.gov.br), que pede para que sejam sempre atualizados. Quando houver um paciente com possível compatibilidade, o voluntário será consultado para decidir quanto à doação. Para seguir com o processo serão necessários outros exames e avaliação clínica de saúde. Só então ele é chamado para um centro de coleta – o A.C. Camargo Cancer Center realiza o procedimento – para doar. “O material pode ser enviado para o paciente da mesma cidade, País ou até fora do Brasil. O trâmite funciona muito bem e é muito rápido. Realmente salva vidas”, conclui a Dra. Marta.

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