Doença renal crônica e COVID-19 apresentam impactos negativos entre si

De Rafael

Com a pandemia do coronavírus inúmeras consequências foram observadas em pacientes de outras enfermidades, como é o caso da doença renal crônica 

A COVID-19 atingiu o mundo de maneira arrebatadora e, com isso, o tratamento de diversas doenças também foi afetado, causando um impacto considerável na saúde da população.

Um exemplo desse impacto, pode ser visto em um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que revelou o alto risco de pacientes com COVID-19 apresentarem Lesão Renal Aguda (LRA). Essa incidência elevada é intensificada nos casos de pessoas que já possuam diabetes e hipertensão ou que façam tratamento com alguns medicamentos específicos. Já o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde identificou as pessoas com doença renal crônica entre os mais suscetíveis ao coronavírus, principalmente pelas disfunções imunológicas causadas pela doença renal.

Os rins também podem ser afetados por complicações do SARS-CoV-2 não relacionadas diretamente ao rim. Por exemplo, pacientes graves com COVID-19 frequentemente apresentam graves alterações da pressão arterial, que comprometem o fluxo sanguíneo ao rim; a necessidade do uso de medicamentos que, embora importantes para outras órgãos, podem causar dano renal direto; e finalmente, a dificuldade de oxigenação causada pelo comprometimento pulmonar afetará também a oxigenação do rim.

Dados recentes têm sugeridos que pacientes com COVID-19 que tiveram comprometimento renal durante a doença tem um risco mais elevado de progredir no futuro com doença renal crônica (DRC). A DRC infelizmente é silenciosa e costuma passar desapercebida pelo paciente que normalmente não apresenta sintomas até os estágios mais avançados (4 ou 5). Nesses estágios, as funções renais já estão bastante comprometidas e afetam tanto a qualidade de vida quanto a expectativa de vida do paciente. Sendo assim, todos os esforços são necessários para informar a população sobre a necessidade do monitoramento da função renal, através das visitas regulares ao seu médico de confiança, e por exames de rotina de sangue e urina que são simples de se fazer. A creatinina é um exame de sangue que mede a função renal e a relação albumina/creatinina um exame de urina que ajuda a identificar de maneira precoce e lesão renal. É importantíssimo também uma mudança na rotina para hábitos saudáveis como forma de equilibrar outras causas que contribuem para a doença renal, por exemplo com exercícios físicos regulares que ajudam no controle do diabetes e hipertensão, as principais causas de doença renal crônica no mundo.

Os pacientes que porventura não consigam evitar a progressão da doença renal podem vir a precisar de diálise ou transplante renal. No Brasil, a maioria dos pacientes faz seu tratamento dialítico pelo SUS (sistema único de saúde). Ela é um tratamento de alto custo e o SUS infelizmente tem reembolsado algo ao redor de 90% dos gastos que as clínicas de diálise tem com essa terapia. Aliado à crise econômica que o país enfrenta, isso desestimula a abertura de novas clínicas e favorece o fechamento das unidades já existentes, o que resulta na redução do número de vagas para o tratamento de uma classe de pacientes que vem crescendo muito nas últimas décadas gerando até lista de espera em alguns centros de diálise no Brasil.

Importante ressaltar que não há cura para a doença renal crônica, sua lesão é irreversível e o máximo que podemos fazer nos casos graves é repor uma pequena parte do que o rim faria com a dialise.  Por isso nosso principal objetivo deve sempre ser a prevenção, impedindo o surgimento da doença ou, num cenário um pouco mais avançado, desacelerando a velocidade com que a função renal vem sendo perdida. Embora para alguns seja possível um transplante renal que leva a uma melhora significativa da função renal ele também não dura para sempre e o paciente com transplante não deixa de ser considerado uma pessoa com doença renal crônica, finaliza Dr. Thyago Proenca de Moraes, Nefrologista e prof do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da PUCPR

**Material destinado a todos os públicos. Produzido em agosto/2021. BR-14310** 

Referências: 

·       Hospital São Mateus: Doenças renais: conheça os 5 tipos mais comuns – Hospital São Matheus (hospitalsaomatheus.com.br) 

·       Sociedade Brasileira de Nefrologia: Insuficiência renal – SBN 

·       Manual MSD: Doença renal crônica – Distúrbios renais e urinários – Manual MSD Versão Saúde para a Família (msdmanuals.com) 

·       MD.Saúde: INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA • MD.Saúde (mdsaude.com) 

·       Sociedade Brasileira de Análises Clínicas: Insuficiência renal aguda em pacientes com COVID-19: perspectiva da Uroanálise : SBAC 

·       UNIFESP: Pacientes com covid-19 apresentam alta incidência de lesão renal aguda – Comunicação (unifesp.br) 

·       FioCruz Bahia: Alguns estudos têm apontado os rins como uns dos órgãos mais afetados na infecção pelo SARS-CoV-2. – Coronavírus (fiocruz.br) 

·       Organização Pan Americana de Saúde OPAS: OPASBRANMHNVCOVID-19200017_por.pdf (paho.org)

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