Einstein pesquisa como reaproveitar medicamento em várias doenças

De Rafael

Inteligência artificial avaliou 30 milhões de artigos científicos e encontrou caminhos para que remédios possam ser utilizados para tratar patologias diferentes daquelas para as quais eles tenham sido desenvolvidos

Por meio de inteligência artificial, pesquisa do Einstein avaliou 30 milhões de artigos publicados entre 1990 e 2018, que envolvem 99 doenças e cerca de 3.700 genes, para identificar a relação entre os genes, as doenças e os remédios que são utilizados como forma de tratamento.

O objetivo da pesquisa, que foi publicada na iScience, era identificar justamente essas ligações entre diferentes patologias, e, assim, colaborar com reposicionamento de fármacos, isto é, quando um remédio passa a ser utilizado para um tratamento diferente daquele para o qual foi elaborado.

Helder Nakaya, pesquisador sênior do Einstein e um dos autores da pesquisa, esclarece que o projeto foi criado porque é praticamente impossível que um cientista consiga acessar todos os artigos publicados sobre uma doença. “O que o método fez foi ler automaticamente milhões e milhões de artigos, criar uma rede de relações entre genes, doenças e drogas, ou seja, viabilizar uma rede de conexões de conhecimento”, conta.

Com essa análise, é possível identificar quais genes estão relacionados à enfermidade e quais fármacos são utilizados no tratamento e, depois, fazer a comparação entre doenças que tenham genes em comum para testar se o remédio utilizado numa patologia pode ser reaproveitado.

Já há estudos, por exemplo, analisando a possibilidade de um medicamento desenvolvido para tratar artrite poder usado em pacientes com esquizofrenia, devido a marcadores genéticos comuns.

“De modo simples, é só imaginar que há um fármaco usado contra a doença A que tenha como alvo molecular um gene X, que também está associado à doença B. Como o gene X é compartilhado, pode-se sugerir usar o fármaco da doença A na doença B”, explica Nakaya.

Vale lembrar que são necessárias muitas pesquisas para garantir que certo remédio seja seguro ou eficaz numa nova indicação. O pesquisador explica que o objetivo da pesquisa não é reposicionar de imediato alguns medicamentos, mas mostrar possibilidades: “Esse é um trabalho inicial que serve para dizer: ‘olha, pessoal, vale testar este fármaco para tratar aquela doença’”, afirma o pesquisador.

No momento Nakaya também está envolvido em uma outra pesquisa com lógica semelhante, só que sobre doenças virais — incluindo a Covid-19 –, com a intenção de identificar genes em comum nessas enfermidades e identificar possíveis novas formas de tratamento.

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