Estudo identifica relação entre microbiota intestinal e COVID-19: infectados tinham menor imunidade

De Rafael

Pesquisas recentes sugerem que o intestino pode ter um papel relevante tanto na evolução quanto na transmissão do vírus 

Um estudo recente produzido por médicos e cientistas chineses mostrou que pacientes que testaram positivo para a Covid-19 estavam com um quadro de disbiose intestinal: sua microbiota intestinal encontrava-se em desequilíbrio, com redução de bactérias consideradas benéficas. Embora não haja nenhuma maneira de o microbioma intestinal exercer proteção direta contra o vírus, existem evidências científicas que mostram uma relação próxima entre a microbiota e o sistema imunológico, explica o doutor em Genética e Biologia molecular Luiz Felipe Valter de Oliveira. Por isso, alerta, é importante considerar a microbiota intestinal no combate ao coronavírus.

“Uma microbiota saudável e equilibrada leva o sistema imunológico a proteger de organismos capazes de provocar uma doença”, diz Oliveira, que também é CEO da startup de biotecnologia BiomeHub. O termo microbiota intestinal, popularmente conhecida como flora intestinal, refere-se à comunidade de microrganismos (bactérias, fungos, vírus e etc) que habitam o aparelho gastrointestinal. Eles estão ali para manter a integridade da mucosa e controlar a proliferação de bactérias patogênicas – aquelas consideradas perigosas. “As bactérias do intestino se tornaram um alvo de estudo extremamente relevante para o conhecimento e tratamento de determinadas doenças”, ressalta doutor em Genética.. 

A bióloga especialista em biotecnologia e biociências Laís Yamanaka explica que o sistema imunológico do intestino é uma das mais extensas redes de células imunológicas do corpo. O desequilíbrio da microbiota intestinal pode causar uma série de alterações nas funções do organismo, comprometendo o revestimento intestinal e levando microrganismos escaparem dali para outros órgãos. “À medida que se acumulam nessas outras áreas, podem levar à reações inflamatórias que danificam os tecidos e levam ao desenvolvimento de condições crônicas. Uma microbiota em desequilíbrio pode criar um ambiente inflamatório que o novo coronavírus pode explorar”, complementa Laís, que também é pesquisadora e responsável técnica na BiomeHub . 

Estudos também destacaram os benefícios das fibras alimentares e probióticos (produtos alimentares que contêm micro-organismos vivos, como chucrute, kombucha e kefir) na melhora de alguns sintomas nas doenças respiratórias. Recentemente, a Comissão Nacional de Saúde da China e a Administração Nacional de Medicina Tradicional Chinesa recomendaram probióticos no tratamento de pacientes com infecção grave por Covid-19 como forma de prevenir infecção bacteriana secundária.

No entanto, ressalta Oliveira, ainda é muito cedo para recomendar probióticos para prevenir a pneumonia ou reduzir a mortalidade na unidade de terapia intensiva em pacientes com Covid-19, assim como concluiu estudo  publicado em uma das mais importantes revistas de medicina do mundo, a “The Lancet Gastroenterology & Hepatology”.

“Embora mais evidências em humanos sejam necessárias antes de recomendar probióticos e prebióticos em pacientes com Covid-19, deve-se considerar o fortalecimento do sistema imunológico associado ao intestino, o que inclui o aumento do consumo de fibras e prebióticos e a incorporação de alimentos fermentados e probióticos na dieta”, recomenda o CEO da BiomeHub. 

Onde eles estão presentes 

  • Prebióticos: cebola, alho, tomate, banana, chicória, aspargos, alcachofra; nos cereais integrais como a cevada, aveia e trigo; no maracujá, maçã, na linhaça, gergelim, amêndoas, na  soja, no feijão azuki, chicória, no alho, cebola, aspargos e na alcachofra.
  • Probióticos: os fermentados como o chucrute, kimchee, kombucha, kefir, gengibre em conserva, pepino em conserva e beterraba fermentada.
  • Alimentos fermentados: iogurtes, chucrutes e bebidas lácteas industrializadas ricas em lactobacilos vivos (Yakult é um exemplo).

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