Garantir às crianças com câncer o melhor tratamento e chance de cura é dever de todos, afirma presidente da SOBOPE

De Rafael

Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica faz uma reflexão sobre a infraestrutura do tratamento oncológico e o futuro da especialidade no País

A oncologia pediátrica no Brasil tem um aliado importante, o Sistema Único de Saúde (SUS). A maior parte dos pacientes pediátricos com câncer depende do SUS para ter acesso ao diagnóstico e tratamento. No entanto, há muito para ser feito em conjunto com o poder público e gestores hospitalares regionais e locais, alerta a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE).

O acesso aos exames para garantir um diagnóstico preciso e oportuno é ponto fundamental, que necessita investimento e uma rede de atendimento estrutura de forma racional e acessível em tempo adequado. Garantir métodos complementares de investigação diagnóstica (exames laboratoriais, radiológicos, medicina nuclear, patologia, citogenética e biologia molecular) é crucial para confirmação do diagnóstico e estadiamento adequado, refletindo diretamente na decisão do tratamento recomendado, que levará a melhor chance de cura com a menor chance de morbidades agudas ou crônicas.

“Dar acesso aos quimioterápicos e imunoterápicos reconhecidamente eficientes para cura é um dever de todos nós, médicos e gestores. Vivemos um contexto de problemas graves: por um lado, desabastecimento de medicamentos fundamentais e que não têm substitutos e, por outro, a dificuldade de incorporação de novas tecnologias e medicamentos inovadores devido ao alto custo”, afirma Dr. Neviçolino de Carvalho, oncologista pediátrico e presidente da SOBOPE.

O tratamento, complexo e multidisciplinar, deve ser direcionado conforme a estratificação de risco objetivando a melhor chance de cura com a menor morbidade. O tratamento de suporte tem papel central no tratamento e inclui: antibióticos, antivirais, antifúngicos, fatores de crescimento de glóbulos brancos, hemocomponentes, unidades de terapia intensiva.

De acordo com o ‘Panorama da Oncologia Pediátrica’, elaborado pelo Instituto Desiderata, existe um alto índice de adolescentes sendo tratados em hospitais não habilitados: 43% dos pacientes entre 15 e 19 anos foram tratados em hospitais sem habilitação em oncologia pediátrica, em desalinho com as orientações nacionais e internacionais, que indicam o tratamento em centros especializados com oncologista pediátrico.

Outro destaque na pesquisa é em relação à mortalidade por câncer no Brasil. A maior taxa específica é entre os adolescentes (51,1/milhão), seguida de crianças de 0 a 4 anos (46,9/ milhão). Nas faixas etárias de 5 a 9 e 10 a 14, os valores são próximos: 37,9 e 37,1 por milhão, respectivamente. Enquanto nos países de alta renda a sobrevida de crianças e adolescentes chega a 80%, em países de média e baixa renda a sobrevida é muito inferior.

“É necessária uma reflexão em que médicos, gestores de instituições hospitalares, gestores políticos e a sociedade civil organizada, cada um dentro da sua esfera e de suas competências, possam convergir para a melhora objetiva de todo o processo que envolve o paciente com câncer. Estruturar cuidados paliativos, necessário para uma assistência completa, é meta incluída nesta discussão”, declara Dr. Neviçolino.

Por fim, o oncologista reitera: “O futuro da oncologia pediátrica brasileira tem que ser no sentido de providenciarmos que todas as crianças e adolescentes com câncer possam ter diagnóstico precoce e oportuno, tratamento adequado, proporcionando cura e devolvendo o paciente com toda sua potencialidade como cidadão à sociedade “.

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