Centro de Pesquisa e Inovação em Cannabis Medicinal do Rambam, ao norte de Israel, busca colaboração brasileira para estudo relacionado à Covid e outras possibilidades
Enquanto na diplomacia as relações entre Brasil e Israel estão estremecidas, na ciência e na saúde o ambiente segue de colaboração. O Centro de Pesquisa e Inovação em Cannabis Medicinal do Rambam Health Care Campus, de Haifa, considerado o maior hospital do norte de Israel, busca parcerias com institutos e hospitais do Brasil para colaboração em estudos acerca do uso da cannabis medicinal para a saúde humana.
Um dos focos de colaboração que o centro procura no Brasil envolve a realização de um ensaio clínico em pacientes com Covid-19. A ideia é aproveitar a expertise do Brasil, considerado referência na epidemiologia, para avançar no estudos do Rambam que demonstraram propriedades antiinflamatórias aprimoradas em modelos de inflamação pulmonar presentes no óleo de cannabis. As descobertas sobre sua eficácia foram publicadas recentemente no periódico científico Frontiers In Immunology.
“Esta investigação publicada fornece informações valiosas sobre os potenciais benefícios terapêuticos do óleo, particularmente no contexto da inflamação pulmonar, o que poderá informar futuros ensaios clínicos e colaborações. O estudo nos permitiu identificar linhagens de cannabis possivelmente úteis no tratamento para a Covid-19. Os resultados positivos observados em modelos animais formaram a base científica para formular questões precisas para testes clínicos subsequentes que estão acontecendo em pacientes de Israel. Com a participação e experiência brasileiras, o estudo poderia trazer ainda mais respostas que ajudem a evidenciar o benefício da cannabis medicinal em mais essa doença”, destaca o Dr. Igal Louria-Hayon, coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação em Cannabis Medicinal do Rambam.
Para Louria, outra via de colaboração entre os países envolveria o intercâmbio de amostras do óleo de cannabis extraídos no Brasil. “Nosso centro tem totais condições de investigar minuciosamente essas amostras e seu potencial médico, numa exploração inicial que certamente poderia abrir caminho para uma variedade de ensaios clínicos conduzidos no Brasil, todos baseados nas descobertas científicas do Centro de Cannabis Medicinal do Rambam”, destaca Louria. “Este esforço colaborativo é promissor para o avanço da nossa compreensão das propriedades medicinais da cannabis e das suas potenciais aplicações nos cuidados de saúde e, em diversos casos, garantindo mais qualidade de vida às pessoas”.
O Centro de Pesquisa e Inovação em Cannabis Medicinal do Rambam coordena a exploração do potencial terapêutico dos canabinoides na comunicação intercelular entre diversas condições de saúde. Apoiado por esforços colaborativos com companhias farmacêuticas e empresas focadas em cannabis, o centro tem como objetivo desvendar seus complexos efeitos em um amplo espectro de doenças. Esse conhecimento coletivo é o fundamento para a condução de rigorosos testes clínicos, facilitando a aprovação de tratamentos baseados em cannabis junto a autoridades da saúde em Israel e no mundo todo.
O centro israelense se dedica a elucidar as exatas interações bioquímicas por trás dos efeitos farmacológicos dos canabinoides oriundos da cannabis. Para isso, conta com o uso de tecnologias de ponta voltadas para a detecção dos mecanismos dos canabinoides em pacientes humanos, o que envolve o acompanhamento meticuloso da farmacocinética dos canabinoides – como eles se comportam no corpo – e a identificação precisa de seus receptores nas membranas celulares, através de biópsias humanas.
Foi assim, inclusive, que o local colaborou na condução de um grande estudo sobre o impacto que linhagens específicas da cannabis têm sobre a artrite, onde os pesquisadores se aprofundaram nos mecanismos bioquímicos e moleculares dos canabinoides dentro das células humanas, lançando mão de um modelo da doença em ratos. A pesquisa fundamental forneceu a base para testes clínicos baseados em evidências envolvendo pacientes humanos.
Em Israel, o uso da cannabis medicinal é legalizado desde a década de 1990. Sob a governança do Ministério da Saúde, o país a regula e permite que pacientes a obtenham com uma receita fornecida por médicos licenciados. Pessoas que apresentam diversas condições, incluindo dor crônica, câncer, transtorno de estresse pós-traumático, esclerose múltipla, doença de Crohn, entre outras, podem se qualificar para o tratamento com cannabis medicinal em suas variadas formas, como flores ressecadas, óleos, tinturas, cápsulas e tópicos.
No país, produtores licenciados têm autorizaçao para cultivar e distribuir cannabis medicinal, garantindo que os pacientes tenham acesso a produtos de qualidade. Além disso, o país permite a exportação de produtos com cannabis medicinal para países onde ela é legalizada, contribuindo para o crescimento de sua indústria canábica.