Impactos do novo piso da enfermagem já provocam demissões nos hospitais de Minas Gerais, Ceará e Paraná

De Rafael

Somente em Minas Gerais, a Central de Hospitais já contabiliza cerca de mil demissões em estabelecimentos da rede privada, nas últimas semanas

Os hospitais da rede privada já começaram a sentir os impactos do novo piso salarial dos profissionais da enfermagem, cujos pagamentos passaram a ser realizados a partir deste mês de junho, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Estados como Minas Gerais e Ceará já relatam centenas de demissões, cenário que deve abarcar também, nos próximos dias, o estado do Paraná, que já informou extrema dificuldade para cumprir a operação. 

O monitoramento do cenário vem sendo realizado pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH), instituição que representa a rede privada nacional, através de consultas constantes às demais associações estaduais. De acordo com o recorte mais recente, somente nas últimas semanas, o estado de Minas Gerais, um dos maiores polos de saúde do país, registrou 965 demissões entre profissionais da categoria. 

A pesquisa realizada pela Central dos Hospitais de Minas Gerais mostra que entre as demissões registradas, 580 foram entre técnicos de enfermagem e 262 entre enfermeiros. Os impactos também abarcaram profissionais de outras áreas, que somaram 115 demissões. “A Central dos Hospitais de Minas Gerais continua apurando os dados e na medida em que formos atualizando, certamente esses números ainda vão subir”, explica Wesley Marques, superintendente da instituição.

Na região Nordeste a situação também já é preocupante. A Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (AHECE) realizou uma reunião, na última sexta-feira, 2, para avaliar os impactos  do novo piso no funcionamento do setor, e o cenário já mostra demissões. “Aqui no Ceará, já temos relatos de demissões em diferentes contextos, que abarcam hospitais grandes e pequenos. Entre os grandes, por exemplo, dois que estavam na reunião já haviam relatado demissões de mais de 100 em cada um, somente entre profissionais da categoria”, frisa o presidente da AHCE, Luiz Aramicy Bezerra Pinto.

No estado do Paraná, as unidades também relatam dificuldades para cumprir a operação e devem adotar a mesma solução de Minas Gerais e  Ceará para enfrentar os impactos do novo piso: demitir. “Os hospitais da rede já informam extrema dificuldade de manter os próximos pagamentos, uma vez que o impacto na folha inviabiliza totalmente a operação”, informa a Associação dos Hospitais do Estado do Paraná (AHOPAR).

EFEITOS

O novo piso da enfermagem, sancionado em meados do ano passado, foi uma conquista importante para a categoria, que há tempos reivindicava melhores condições de trabalho e remuneração adequada. No entanto, a implantação dessa medida tem se mostrado um desafio tanto para os hospitais privados e filantrópicos, quanto para a própria sustentabilidade financeira dos serviços públicos.

Um dos principais obstáculos enfrentados pelos hospitais privados e filantrópicos está na falta de fontes de custeio seguras para arcar com o aumento dos salários. Muitas dessas instituições já vinham enfrentando dificuldades financeiras antes mesmo da implementação do novo piso, e agora a situação se agravou.

“Quem acompanhou toda a luta dos hospitais privados para enfrentar, durante a pandemia de covid-19, o cenário de crise e os impactos financeiros nas receitas, sabe o quanto foi difícil para rede se restabelecer. Hoje, ainda estamos sofrendo com os efeitos da pandemia, há estabelecimentos que não conseguiram se restabelecer e enfrentam dificuldades. Com este novo piso, o cenário que nos rodeia é a volta do contexto de perdas de hospitais e de leitos hospitalares, além das demissões em massa, como já começamos a testemunhar”, explica o presidente da FBH, Adelvanio Francisco Morato.

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