Março Lilás: um alerta para o câncer de colo de útero, que é 100% prevenível, mas ainda o terceiro mais comum no país

De Rafael

Detecção do HPV e de lesões precursoras da doença é essencial para evitar mortes e tratamentos mais agressivos; médica e paciente alertam para a prevenção

O câncer de colo de útero é um dos poucos que pode ser erradicado e é totalmente prevenível1. Sua principal causa é uma infecção persistente pelo vírus HPV – detectável por meio de exame preventivo antes que cause o tumor, e contra o qual existe vacina. No entanto, a baixa adesão das mulheres aos exames periódicos e de meninas e meninos à vacina, além da falta de acesso a tecnologias diagnósticas mais precisas, fazem com que uma brasileira morra pela doença a cada 90 minutos2, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). São 6,5 mil mortes e 16,5 mil novos casos por ano no país2. Por isso, o mês de março, com a cor lilás, é voltado para conscientizar a população sobre a prevenção e o combate ao câncer de colo de útero.

“Nenhuma mulher deveria morrer por câncer de colo do útero”, afirma a Dr. Neila Speck, especialista em ginecologia e patologia do trato genital inferior. “Isso porque se trata de uma doença prevenível, através da vacinação e do diagnóstico precoce com o teste molecular de HPV”, enfatiza a médica. O teste de Papanicolaou, mais comumente utilizado entre os exames ginecológicos, procura alterações nas células do colo do útero antes que as mesmas se desenvolvam em câncer, mas tem sensibilidade mediana, deixando escapar alguns casos de lesões precursoras e até de câncer já estabelecidos. No entanto, existe um exame que detecta de forma automatizada as cepas do vírus que causam o câncer, com mais precisão. “O teste de DNA-HPV é fundamental para alcançar uma redução da incidência e da mortalidade por câncer de colo do útero”, ressalta a especialista.

Um estudo que está sendo realizado na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo, em parceria com a Prefeitura Municipal, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Roche Diagnóstica, usa o exame de DNA-HPV em um programa de rastreamento para as mulheres da cidade. Os resultados preliminares estão sendo promissores: após 30 meses de programa, o diagnóstico do câncer nas mulheres que fizeram o teste molecular (DNA-HPV) foi antecipado em 10 anos, comparando-se a média de idade do diagnóstico quando era usado o método tradicional (de 49 anos para 39 anos). Além disso, muitas das mulheres que participaram do estudo evitaram desenvolver o câncer, pois quando o teste dava positivo para tipos do HPV com maior probabilidade de causar a doença, as pacientes eram encaminhadas para exames complementares e, se necessário, tratamentos curativos e preventivos.

A paranaense Nayane Roma é uma das mulheres que poderiam ter se beneficiado com o uso mais amplo do exame de maior precisão. A atriz de 35 anos, que vive na capital paulista com seu marido e filhos, descobriu o câncer de colo de útero em plena pandemia, em 2020. Ela quase deixou de fazer seus exames de rotina naquele ano, porque o resultado de seus últimos exames ginecológicos tinham sido normais.

Por intuição, resolveu fazer o check up. O resultado do Papanicolaou fez seu mundo cair: foi descoberta uma lesão de alto grau. A biópsia que realizou em sequência detectou uma lesão no colo de útero em estágio III, a um passo do câncer. A análise também revelou que ela tinha o vírus HPV – quando criança, ela não chegou a tomar esta vacina. Nayane passou por cirurgias e um período em que não conseguia mais ver beleza na vida. “Eu não via mais o mundo colorido, apenas preto e branco.” Hoje, ela está recuperada da doença e quer alertar as mulheres sobre a importância do autocuidado e da realização dos exames de rotina, para que não precisem passar pelo que ela passou.

“Eu tive sorte de descobrir no início e ser curada. Mas aprendi a lição. Quero que mais mulheres falem sobre o risco do HPV, não tenham vergonha ou medo, e procurem orientação”, alerta a atriz. “A mulher não pode se deixar em segundo plano. Às vezes temos uma pele boa e um corpo bonito, mas não sabemos como estamos por dentro. Eu era totalmente assintomática e estava com câncer”, compartilha.

Referências

1. WHO: Global strategy to accelerate the elimination of cervical cancer as a public health problem [17NOV2020]. Disponível aqui.

2. INCA. Câncer do colo do útero. Disponível aqui. Acessado em 02/03/2021.

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