Obesidade infantil: manter uma rotina saudável na pandemia é parte importante do tratamento para prevenir complicações

De Rafael

No Dia Mundial da Conscientização da Obesidade Mórbida Infantil, 3 de junho, a endocrinologista pediátrica fala sobre a importância de tratamento da obesidade ainda na infância, para evitar complicações futuras e melhorar a qualidade de vida

3 de junho é lembrado como o Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil. A data foi criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para trazer luz a um assunto muito importante e que está sempre no radar de pais, mães e cuidadores: a obesidade na infância e na adolescência. De cada três crianças e adolescentes no Brasil, uma está acima do peso; 11% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos têm obesidade e 17,2%, sobrepeso, segundo o Ministério da Saúde e a OECD.
Com a pandemia que nos atinge desde o ano passado, com crianças em isolamento social e por isso longe das escolas, dos parquinhos e das atividades esportivas, ansiosas e muitas vezes ingerindo alimentos não tão saudáveis, a expectativa é que esses números possam aumentar.

“A obesidade é uma doença crônica multifatorial, com implicações genéticas (quando os pais têm obesidade) e ambientais, caso a criança esteja inserida em uma família com hábitos alimentares não saudáveis e está sedentária. Isso pode gerar a obesidade infantil”, diz a endocrinologista pediátrica Ruth Rocha Franco, do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo-USP e consultora médica da Novo Nordisk.

De acordo com a médica, se a obesidade não for tratada de forma adequada, pode evoluir e causar problemas graves mesmo na infância, como diabetes tipo 2, colesterol, hipertensão, entre outras condições. “Os pais devem procurar ajuda o quanto antes. É uma doença crônica e recorrente, ou seja, o tratamento é de longo prazo para que, uma vez que o peso seja perdido, não haja o reganho. A família não precisa ter vergonha de procurar tratamento. Existe um mito de que a obesidade é preguiça ou falta de caráter e não é”, enfatiza. “Estigmatizar a obesidade atrasa muito o diagnóstico e o início do tratamento”.

No passado, existia a percepção equivocada de que ‘criança gordinha’ era criança saudável e bem alimentada – mas, essa impressão tem mudado. “É comum a criança estar acima do peso e ter falta de ferro e vitaminas. Muitas vezes, a dieta é tão limitada, que ela só ingere doces e carboidratos ultra processados, ou seja, não come frutas, não come legumes. Apesar de estarem acima do peso, estão desnutridas nutricionalmente”, informa a endocrinologista.

Dessa forma, dietas radicais são desaconselhadas para quem está em fase de crescimento. O que deve ser feito é a reeducação alimentar, ou seja, aprender a comer alimentos mais saudáveis, mais verduras e frutas, e diminuir alimentos com mais açúcar. “A ideia de alimento proibido traz resultados opostos aos esperados. Se você falar para uma criança (ou adulto) que certo alimento é proibido, isso já aumenta o interesse nele”, alerta Ruth. “Uma dieta balanceada é a ideal para uma criança que está em fase de desenvolvimento”.

Além da saúde física, a obesidade também pode ter efeitos psíquicos nessa fase da vida. “A criança com obesidade pode desenvolver uma autoestima baixa, pois muitas vezes são excluídas dos jogos e brincadeiras, sofrem bullying, o que pode levar à ansiedade e à depressão”.

Ao buscar o tratamento adequado, é preciso que o núcleo familiar colabore com o tratamento da obesidade. Segundo a médica, quando a família (incluindo os avós) se envolve, a criança se sente motivada e começa a perder peso. “Dessa forma, toda a família pode começar a reduzir o peso. Os pais começam a perder peso e a brincar mais tempo com os filhos. É saúde para toda a família”, completa a especialista.

Alimentação saudável em tempos de pandemia

Atualmente, as famílias se veem em um desafio ainda maior em tempos de distanciamento social devido à pandemia da Covid-19: conseguir mudar hábitos, tanto alimentares quanto de atividade física, em um período em que todos estão mais reclusos, ansiosos e também mais estressados. Para enfrentar essa fase, a endocrinologista aconselha usar a criatividade, fazendo com que a criança se movimente dentro de casa, seja brincando com o cachorro, arrumando seu próprio quarto, movimentar-se mais dentro de casa ou subir escadas caso more em prédio, ou mesmo preparar uma salada diferente”.

“Se for adolescente, pode até tentar um aplicativo de exercício físico que ele possa fazer sozinho, mas com cuidado para não ter uma lesão”, explica. “O papel dos pais nesse momento é muito importante. Como a pandemia se estendeu mais do que a expectativa das pessoas, convém olhar para dentro e ver o que precisa ser melhorado”.

Referências:
Ministério da Saúde, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, 2019
A Obesidade Infantil No Brasil: Um Estudo Comparativo Entre A Pnsn/1989 E A Pof/2008-09 Entre Crianças De 5 A 9 Anos De Idade
OECD, The Heavy Burden of Obesity: The Economics of Prevention, OECD Health Policy Studies, OECD Publishing, Paris, 2019
Crédito da imagem: Freepik

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