No Dia Mundial da Conscientização da Obesidade Mórbida Infantil, 3 de junho, a endocrinologista pediátrica fala sobre a importância de tratamento da obesidade ainda na infância, para evitar complicações futuras e melhorar a qualidade de vida
“A obesidade é uma doença crônica multifatorial, com implicações genéticas (quando os pais têm obesidade) e ambientais, caso a criança esteja inserida em uma família com hábitos alimentares não saudáveis e está sedentária. Isso pode gerar a obesidade infantil”, diz a endocrinologista pediátrica Ruth Rocha Franco, do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo-USP e consultora médica da Novo Nordisk.
De acordo com a médica, se a obesidade não for tratada de forma adequada, pode evoluir e causar problemas graves mesmo na infância, como diabetes tipo 2, colesterol, hipertensão, entre outras condições. “Os pais devem procurar ajuda o quanto antes. É uma doença crônica e recorrente, ou seja, o tratamento é de longo prazo para que, uma vez que o peso seja perdido, não haja o reganho. A família não precisa ter vergonha de procurar tratamento. Existe um mito de que a obesidade é preguiça ou falta de caráter e não é”, enfatiza. “Estigmatizar a obesidade atrasa muito o diagnóstico e o início do tratamento”.
No passado, existia a percepção equivocada de que ‘criança gordinha’ era criança saudável e bem alimentada – mas, essa impressão tem mudado. “É comum a criança estar acima do peso e ter falta de ferro e vitaminas. Muitas vezes, a dieta é tão limitada, que ela só ingere doces e carboidratos ultra processados, ou seja, não come frutas, não come legumes. Apesar de estarem acima do peso, estão desnutridas nutricionalmente”, informa a endocrinologista.
Dessa forma, dietas radicais são desaconselhadas para quem está em fase de crescimento. O que deve ser feito é a reeducação alimentar, ou seja, aprender a comer alimentos mais saudáveis, mais verduras e frutas, e diminuir alimentos com mais açúcar. “A ideia de alimento proibido traz resultados opostos aos esperados. Se você falar para uma criança (ou adulto) que certo alimento é proibido, isso já aumenta o interesse nele”, alerta Ruth. “Uma dieta balanceada é a ideal para uma criança que está em fase de desenvolvimento”.
Além da saúde física, a obesidade também pode ter efeitos psíquicos nessa fase da vida. “A criança com obesidade pode desenvolver uma autoestima baixa, pois muitas vezes são excluídas dos jogos e brincadeiras, sofrem bullying, o que pode levar à ansiedade e à depressão”.
Ao buscar o tratamento adequado, é preciso que o núcleo familiar colabore com o tratamento da obesidade. Segundo a médica, quando a família (incluindo os avós) se envolve, a criança se sente motivada e começa a perder peso. “Dessa forma, toda a família pode começar a reduzir o peso. Os pais começam a perder peso e a brincar mais tempo com os filhos. É saúde para toda a família”, completa a especialista.
“Se for adolescente, pode até tentar um aplicativo de exercício físico que ele possa fazer sozinho, mas com cuidado para não ter uma lesão”, explica. “O papel dos pais nesse momento é muito importante. Como a pandemia se estendeu mais do que a expectativa das pessoas, convém olhar para dentro e ver o que precisa ser melhorado”.
Ministério da Saúde, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, 2019
A Obesidade Infantil No Brasil: Um Estudo Comparativo Entre A Pnsn/1989 E A Pof/2008-09 Entre Crianças De 5 A 9 Anos De Idade
OECD, The Heavy Burden of Obesity: The Economics of Prevention, OECD Health Policy Studies, OECD Publishing, Paris, 2019