*Por Paulo Magnus, CEO da MV.
A pandemia trouxe evoluções em prol de uma Saúde digitalizada, mas, à exceção da telemedicina, muitas das disrupções já entraram em descompasso com o futuro que esperávamos no pós-pandemia. Se quisermos avançar verdadeiramente, considero três os desafios críticos que teremos de endereçar. Por Paulo Magnus, CEO e fundador da MV
A saúde digital no mundo pós-pandêmico foi algo bastante idealizado: esperava-se que a virada para o digital permanecesse forte e que as instituições mergulhassem de cabeça no universo de possibilidades que a digitalização traz para pacientes, médicos e demais envolvidos.
Essa evolução, em termos de conexão e realidade digital criada a partir dos percalços trazidos pela pandemia, foi algo que realmente aconteceu. A telemedicina, por exemplo, que há anos esperava por um impulso para acontecer, finalmente teve a chance de mostrar seu potencial.
Mas, infelizmente, os passos que demos adiante, mesmo numa situação tão difícil, rumo a uma saúde verdadeiramente conectada, já não são mais tão largos como imaginávamos. A saúde digital é uma realidade que ainda precisa ser construída. Mais do que isso, o caminho para alcançá-la em sua integralidade é ainda longo e desafiador.
São três os principais desafios que enxergo como críticos e os quais precisam ser endereçados se quisermos, de fato, alcançar o topo dessa montanha chamada transformação digital da saúde: engajamento do paciente, integração de dados e, por fim — mas longe de ser menos importante —, regulação.
Começo pelo fato de que o engajamento do paciente depende, certamente, do quão responsável pela sua própria saúde ele se considera. Em tempos de mídias sociais, streamings e televisão com conteúdo sob demanda, e todo tipo de facilidade que se possa imaginar, o paciente acabou se tornando um indivíduo bastante conectado.
No entanto, há um comportamento curioso:
O paciente se conecta a partir de uma esfera pessoal, mas a saúde não é vista como um elemento integrante desse ecossistema, mas, sim, considerada um apêndice desprezado.
O que quero dizer com isso? Que o indivíduo consegue conectar o que quiser — da cafeteira que está programada para fazer o café pela manhã juntamente com o despertador, aos aplicativos que ora avisam sobre a ração do pet que acabou, ora entregam aquelas compras de mercado que foram programadas para chegar mensalmente à residência. Mas e a saúde, onde fica? Não fica.
“O paciente é digital, a saúde nem tanto”
Assim, chegamos ao desafio número 2: a integração de dados. Hoje, um conceito que descreve essa integração é o Open Health, ou seja, todos os elementos que compõem a cadeira da Saúde — do próprio paciente, aos hospitais, farmácias e outros players — terão acesso aos dados dos indivíduos que autorizarem o compartilhamento.
O sistema financeiro fez isso de forma magistral quando olhamos para inovações como o Open Finance, ou até mesmo o próprio PIX, que foi rapidamente abraçado por cidadãos e empresas e hoje faz parte do nosso dia a dia. Até julho deste ano, por exemplo, o Banco Central registrou 478 milhões de chaves cadastradas no sistema, com uma quantidade de operações executadas via PIX superando outros meios de transações, incluindo cartão pré-pago, transferência interbancária e débito.
Mas, para chegar a um patamar equivalente para a saúde, temos pela frente o desafio de acabar com a fragmentação desse contexto de compartilhamento de dados, que afeta negativamente não apenas a questão de avanços da saúde digital, mas também do
engajamento do usuário.
A partir do momento que entregamos os dados nas mãos do próprio paciente, fazendo com que ele seja co-responsabilizado por sua própria saúde, o engajamento dele tende a aumentar. Da mesma forma, os dados passam a ser compartilhados entre todos que compõem o ecossistema.
Com dados integrados, teremos uma saúde cada vez mais preditiva e menos reativa, evitaremos exames desnecessários e poderemos, enfim, ganhar velocidade em diagnósticos e na digitalização do ecossistema como um todo — que é justamente o patamar de maturidade que queremos alcançar.
Por fim, chegamos ao terceiro elemento: a regulação que, no Brasil, tem o histórico de ser onerosa, seja em termos de tempo e burocracias necessárias à sua resolução, seja do ponto de convencimento dos participantes, de engajamento de lideranças e da própria adequação de estruturas e sistemas.
Na prática, isso significa que a máxima “a transformação começa internamente” se aplica muito ao contexto da Saúde e para quem deseja que o ecossistema evolua como um todo. Na MV, por exemplo, assumimos o compromisso de começar por nós.
Queremos mudar e, para isso, precisamos ser a mudança. Queremos também inspirar outras instituições a fazerem o mesmo e, portanto, estamos desenvolvendo todo um trabalho em conjunto com clientes para que nossos sistemas tenham essa integração, promovam uma interoperabilidade que hoje é fraca na maioria das tecnologias que são utilizadas no mercado.
Ferramentas interoperáveis como o Prontuário Eletrônico do Paciente, que revolucionou a saúde brasileira, terão protagonismo dentro dessa agregação de dados e que tanto beneficiará o bem-estar de milhões de brasileiros.
Assim, peço também que encarem estas últimas linhas como uma carta aberta a quem quiser participar ativamente da transformação da Saúde rumo ao digital. Porque o trabalho ainda é grande e árduo, e, portanto, precisaremos de todas as mãos que pudermos para levantar este castelo.
“A conclusão é única: não há tempo a perder se quisermos avançar.”