Ação solidária SOS Coração Amazonas visa levar assistência médica a distância a pacientes com doenças cardiovasculares
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), sensibilizada com o agravamento da pandemia de Covid-19 que tem assolado o Brasil, em especial Manaus (AM), que vive uma situação de emergência sanitária, lançou, no dia 22 de janeiro, a ação solidária SOS Coração Amazonas, com objetivo de apoiar na assistência médica à população daquele Estado.
A ação estratégica consiste na implementação da telecardiologia para auxiliar no atendimento prioritário aos pacientes com doenças cardiovasculares daquele estado, que tiveram ou não Covid-19, durante o período de crise de emergência em saúde pública. Para tanto, a SBC está disponibilizando sua plataforma de telemedicina para somar esforços com os profissionais de saúde que se voluntariarem para atender a quem precisa e não pode recorrer ao atendimento presencial, observando o isolamento social recomendado pelas autoridades sanitárias, e convida os médicos e residentes de cardiologistas a participarem deste ato solidário pela vida da população amazonense.
Fruto de uma parceria com a Conexa Saúde, a ação visa orientar cardiopatas e facilitar o acesso aos cardiologistas, encurtando a distância entre o médico e o paciente, além de democratizar o acesso à saúde e auxiliar os portadores de comorbidades associadas às doenças cardiovasculares, cuja taxa de letalidade é de até 10,5% quando contraída a infecção por SARS-CoV-2, a buscar orientação e atendimentos adequados.
“Neste momento de crise de saúde pública, é muito importante informar aos pacientes sobre os riscos que correm ao se contaminarem com o novo coronavírus e sobre a necessidade de se cuidarem e se protegerem ser ainda maior, assim como seguir seus tratamentos específicos, conforme prescrição médica, e buscar auxílio médico quando necessário”, alertou o presidente da SBC, Marcelo Queiroga, no webinar de lançamento da campanha.
Ele lembrou que são 18 milhões de óbitos no mundo por ano em decorrência das doenças cardiovasculares. No Brasil, são mais de 380 mil mortes anualmente.
“Na pesquisa realizada na base de dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), parceira da SBC, ao avaliarmos seis capitais, Manaus teve os piores resultados com o aumento de notificações de óbitos por infarto e acidente vascular cerebral (AVC), além do alto índice de mortes por doenças cardiovasculares indeterminadas em domicílio em 2020. Ou seja, o recrudescimento da pandemia da Covid-19 em Manaus pode ser acompanhado de preocupante aumento de óbitos por causas cardiovasculares. Por isso, nós, cardiologistas, temos de contribuir para ajudar o Amazonas na assistência à saúde para vencermos o desafio de reduzir a mortalidade por complicações cardiovasculares”, ressaltou Queiroga, que esteve na capital amazonense em agosto do ano passado e pôde constatar a difícil realidade da saúde naquela região.
O subsecretário municipal de Gestão da Saúde de Manaus, Luís Cláudio Lima Cruz, que é médico angiologista, confirmou que a capital vive um colapso na saúde e que a parceria com a SBC é “um passo gigantesco para se oferecer um serviço adequado aos pacientes cardiopatas que tanto precisam de atenção devido suas condições perante a Covid-19”.
Segundo Kátia Couceiro, presidente da SBC-AM, a entidade vem discutindo os problemas da assistência cardiovascular no Estado há algum tempo, com o objetivo de melhorar o desempenho da prestação do serviço de saúde e para mudar a história natural das doenças, reduzindo a mortalidade cardiovascular. “Há um empenho muito grande da SBC no intuito de cooperar para levar assistência ao povo amazonense e é com a solidariedade que podemos mudar o cenário atual da saúde”, destacou.
O Ministério da Saúde regulamentou a telemedicina, no âmbito da saúde pública e suplementar, com a Portaria 467/2020, vigente apenas enquanto durar a pandemia, e determina que o atendimento a distância deverá ser efetuado diretamente entre médicos e pacientes, por meio de tecnologia da informação e comunicação que garanta a integridade, a segurança e o sigilo das informações.
Força-tarefa pelo Amazonas
Para participar do SOS Coração Amazonas, cardiologistas e residentes de cardiologia em serviços de saúde credenciados pela SBC em todo o país devem acessar a plataforma virtual disponível no link e fazer o cadastro para o serviço voluntário. A adesão ao programa é gratuita durante o período de crise sanitária de emergência pública naquele estado.
Os residentes que participarem da ação solidária somarão pontos para o concurso do Título de Especialista em Cardiologia (TEC), promovido pela SBC. A divulgação desta pontuação estará descrita no edital da prova do TEC de 2021.
Além da teleconsulta, é possível a emissão de receitas médicas, usando certificado digital, e o telediagnóstico, que consiste em encaminhar ao médico os exames como eletrocardiograma e até ecocardiograma, em algumas situações, para avaliação do cardiologista, tudo em consonância com a Lei Geral de Proteção de Dados e com as normas do Conselho Federal de Medicina.
A teleorientação, um tipo de consulta mais dirigida, também é ofertada, principalmente para os pacientes que já têm vínculos com seus médicos, assim como o telemonitoramento, que pode ser útil no acompanhamento de enfermos hipertensos e com insuficiência cardíaca.
“Nosso objetivo é formar uma corrente de solidariedade na atenção voluntária e atender remotamente os pacientes cardiopatas, que, com a pandemia, acabaram ficando sem acompanhamento médico especializado”, afirmou José Francisco Kerr Saraiva, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC/Funcor.
O cadastramento dos pacientes de doenças cardiovasculares amazonenses para o atendimento a distância será feito diretamente na plataforma de telecardiologia pela prefeitura de Manaus e pela direção do Hospital Universitário Francisca Mendes.
Para o sucesso da ação solidária, a SBC conta com o apoio da World Heart Federation (WHF), Fundação Adib Jatene e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), além dos cardiologistas associados voluntários da SBC já cadastrados no Programa de Telecardiologia da entidade e da rede de médicos da Conexa Saúde.
Roberto Vieira Botelho, presidente da Fundação Adib Jatene, salientou, ao participar do webinar de lançamento da ação solidária da SBC pelo Amazonas, que o infarto não respeita a Covid-19 e que houve no mundo um aumento de 70% da mortalidade cardiovascular por falta de acesso ao atendimento.
“Não há nenhuma outra estratégia melhor e mais eficiente, falando em custo-efetividade e custo por ano de vida salva, do que a telemedicina, porque ela leva acesso, economia e indicadores robustos”, garantiu Botelho, que colocou toda a estrutura da instituição, desde seus 60 residentes de cardiologia até sua plataforma de telecardiologia, à disposição da iniciativa da SBC.
Para o presidente do CONASEMS, Wilames Freire Bezerra, é importante os gestores de saúde dos municípios amazonenses se organizarem e unirem-se à ação solidária da SBC para garantir assistência médica à população portadora de doenças cardiovasculares.
Grande defensor da telemedicina, o presidente da WHF e reitor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Fausto Pinto, declarou que em um país com dimensões continentais como o Brasil, ainda mais com um cenário de pandemia, o atendimento médico a distância é fundamental para garantir o acesso aos serviços de saúde e promover a assistência médica de qualidade aos pacientes cardiopatas.
“A telessaúde tem importância para a eficácia do atendimento das populações no mundo já algum tempo. No momento atual, em que a pandemia atinge quase 100 milhões de pessoas e já levou a óbito mais de 2,1 milhões de indivíduos, a telemedicina auxilia na reorganização dos sistemas de saúde para um aproveitamento melhor de recursos, no acesso às zonas mais remotas, como no caso de Manaus, levando cuidados de saúde onde não há outras opções de atendimento e promove a melhora clínica e terapêutica, principalmente de pacientes que precisam de acompanhamento médico, como os portadores de doenças cardiovasculares. Apoiar a ação SOS Coração Amazonas da SBC é apoiar a saúde e a vida”, concluiu.