Setembro Amarelo: “Agir Salva Vidas”

De Rafael

Marcelo Alves dos Santos

O saber manifesto sobre tão silenciado assunto se faz necessário, mesmo que assuste ou doa, pois “Agir Salva Vidas”, tendo em vista a preocupante estatística de que, a cada quarenta segundos, acontece um suicídio no mundo. Uma palavra tão pequena, porém tão dura em seu significado, derivada do latim, sui (si mesmo) e caederes (ação de matar). Mas que, apesar da dor enfrentada, a morte não justifica e nunca será uma solução.

Assunto tratado ao longo dos séculos como sendo incômodo, nas mais diversas sociedades, exigiu que o silêncio fosse quebrado. Nos últimos séculos, estudiosos trataram-no como um problema moral, depois foi tratado como crescente problema social, exigindo explicações para tal fenômeno. Respeitado sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês, Émile Durkheim publicou em 1897 “O Suicídio: Estudo Sociológico”, dando enfoque e explicação ao mostrar sua preocupação com o impacto que macroestruturas teriam sobre os fenômenos de nível micro, ou seja, o quanto fenômenos sociais afetam a prática do suicídio.

O mundo mudou, a sociedade moderna trouxe tantas outras angústias, impactando sumariamente neste “ser no mundo”. As preocupações trazidas por Durkhein evidenciaram ainda mais o assunto suicídio no atual século, que se tornou preocupação mundial, passando a ser visto e pesquisado na área da saúde pública. Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) passaram a apoiar pesquisadores do mundo todo, a estudarem o assunto para melhor conhecê-lo, e assim, pensar em formas de prevenção.

No Brasil, o suicídio foi posto no Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Em seu volume 50, publicado em Julho de 2019, trouxe dados em relação a tentativas e óbitos por intoxicação exógena, de 2007 até 2016. No entanto, o destaque que se deve fazer está no fato de que, no Brasil, o suicídio tornou-se relevante problema de saúde pública, exigindo a formação de inúmeras redes de apoio, não apenas à pessoa que tenta tal ato, mas a toda a família.

É de conhecimento que há enorme preocupação com a exposição em demasia de tal assunto, a ponto de os meios de comunicação evitarem publicar notícias sobre episódios trágicos, justamente, para se evitar possíveis efeitos de imitação. Tal preocupação mobilizou a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), conjuntamente com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a publicarem uma cartilha orientando profissionais da Imprensa, com intuito de melhorar ainda mais a parceria, já que são essenciais para a publicação de matérias que orientem a população sobre os transtornos psiquiátricos. Com isso, passaram a contribuir, ainda mais, com as campanhas de prevenção ao suicídio, desmistificando o tema para a população.

A Associação Internacional para Prevenção do Suicídio e a Organização Mundial da Saúde, instituíram o dia 10 de setembro como data mundial de Prevenção ao Suicídio. A campanha Setembro Amarelo tem como foco principal, abrir conversas, conscientizar, mas, principalmente, mostrar às pessoas que sofrem com algum tipo de pensamento suicida, que não estão sozinhas e que a morte não é a melhor solução para apaziguar a dor e a dificuldade enfrentada diante de qualquer tipo de problema. No Brasil, tal iniciativa só aconteceu a partir de 2015, promovido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

O importante a dizer é que as campanhas buscam ajudar as pessoas que sofrem pelo adoecimento, sofrem pelo preconceito, até mesmo pela invisibilidade, pelo isolamento, mas não podem, apesar da dor, acreditar que estão sozinhas, nem que não há pessoas ou entidades dispostas a ajudá-las.

Os vários símbolos trazidos nas campanhas possuem significados, o principal deles foi a fita amarela, baseada no Mustang Amarelo de Mike Emme, um rapaz norte-americano que, após sua morte, mobilizou o pedido de ajuda de muitas pessoas que, assim como ele, sofriam de depressão. Seus pais no dia de seu enterro distribuíram cartões com fitas amarelas, com os seguintes dizeres: “se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”. Este ato ganhou repercussão nacional, seguida por inúmeras outras campanhas, mantendo o símbolo original e oficial, a fita amarela.

Neste ano, no Brasil, o tema tratado na campanha de Setembro Amarelo é “Agir Salva Vidas”. Contudo, cabe lembrar que em outra campanha, o girassol foi lembrado como ato de resistência à escuridão, à falta de luz trazida pelo adoecimento mental, principalmente, a depressão, responsável por inúmeros atos de suicídio. Nesse sentido, encerro este artigo lembrando o comportamento da natureza: mesmo que o sol esteja escondido em meio as nuvens, a flor gira insistentemente, apesar de toda a dificuldade imposta, na direção da luz, assim devemos agir em relação a preservação da vida, busquemos a luz da ajuda, a luz da fé, para clarear a obscuridade que o silêncio traz, pois o suicídio não deve ser uma opção.

Marcelo Alves dos Santos, psicólogo clínico e professor do curso de Psicologia do Centro de Ciência Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

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