Jihan Zoghbi
Um dos temas mais relevantes para a economia e o futuro em sociedade é, sem dúvida, o meio ambiente. Os impactos relacionados ao clima são cada vez mais sentidos em diversas partes do globo e preocupam lideranças políticas, pesquisadores e cientistas. No campo da saúde, especialmente após o período pandêmico, as ações ESG — do inglês environmental, social and corporate governance — ganharam força e encontraram, na inovação, uma grande aliada.
Trata-se de uma evolução gradual constatada por 14 pesquisas revisadas pela Universidade de Cambridge. Resultados concretos já foram identificados, especialmente quando se analisa os impactos dos atendimentos clínicos e hospitalares. No caso da telemedicina, além da agilidade e do conforto para o paciente, reduz-se a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) ao evitar o uso de veículos automotores para o deslocamento.
Exemplo disso é a pesquisa amplamente divulgada pela CommonSpirit Health, com dados coletados durante o auge da Covid-19 nos Estados Unidos, entre março de 2020 e abril de 2021. O estudo calculou que 15 mil toneladas de dióxido de carbono (CO²) e 6,4 milhões de litros de combustíveis fósseis deixaram de poluir o meio ambiente, a partir de 1,5 milhão de atendimentos de saúde realizados via telemedicina no período. Em termos financeiros, os pacientes deixaram de gastar US$ 11 milhões em combustíveis.
No recorte dos insumos utilizados em atendimentos médicos, os números são assustadores: 130 bilhões de máscaras faciais e 65 bilhões de luvas descartáveis são usados mensalmente no mundo e grande parcela tem como destino final os oceanos. O dado é da ONG Ocean Conservancy, a partir de estudos que medem a quantidade de lixo descartado no mar. Estamos falando de uma grande quantidade de resíduos sólidos, com potencial de contaminação do solo e da água, e que demandam políticas públicas, esforços de entidades não governamentais e apoio da iniciativa privada para o devido descarte.
Outro segmento que trabalha a favor do ambiente é a telerradiologia, modalidade regulamentada e consagrada no Brasil. O uso da nuvem para armazenamento de imagens médicas evita a necessidade de estruturas físicas complexas e data centers refrigerados. Economiza-se em energia, água potável, espaço e tempo. Quando a Dr. TIS iniciou sua jornada, há cinco anos, além do propósito de democratizar o acesso à saúde, também tínhamos em mente reduzir os impactos ambientais da emissão de laudos de papel e as famosas “chapas”, compostas por prata e metais tóxicos.
Assim como o mundo se prepara para um novo momento, em que a saúde e a sustentabilidade devem caminhar na mesma direção, aqui no Brasil os desafios a serem vencidos ainda são enormes. Por isso, é importante defender a ampliação da telemedicina e da telerradiologia a partir do Sistema Único de Saúde e contemplar pacientes de regiões remotas. Igualmente, é necessário insistir na implantação do sistema 5G e fomentar a aplicação da inteligência artificial em prol da saúde.
Se queremos um futuro diferente e com mais harmonia entre desenvolvimento e natureza, precisamos olhar para nossas áreas de atuação e perguntar: de que forma eu contribuo para preservar o planeta? Essa reflexão começa em casa e pode dar muito certo. Que a Medicina, responsável por 4,5% das emissões mundiais de Gases do Efeito Estufa (GEE), siga em evolução e sirva de exemplo para outros setores que não tiveram medo de avançar em tecnologia.
CEO da startup Dr. TIS