Com a reabertura de boa parte das capitais no Brasil, uma das maiores preocupações dos especialistas em saúde está na disseminação de infecções pela variante Delta da Covid-19. Isso porque, apesar de ter sido avaliada como menos letal, a cepa é sabidamente muito mais transmissível, o que poderia aumentar o número de casos – e, consequentemente, de hospitalizações em todo o território nacional.
No Rio de Janeiro, por exemplo, 53,7% dos casos de Covid-19 foram causados pela Delta. Nesta semana, os principais especialistas que trabalham no combate à pandemia de Covid-19 em Minas Gerais afirmaram que essa variante do coronavírus deve se tornar majoritária no Estado. Em São Paulo, de acordo com a Prefeitura, a variante Delta corresponde a 43,5% dos casos confirmados na cidade. Centros de pesquisa liderados pela Fiocruz, Observatório Covid-19, USP e Unesp já apontam um possível pico de novos casos em grandes capitais ainda no mês de setembro em decorrência da cepa.
Mas, com o avanço da vacinação, essa apreensão não deveria ser menor? Afinal, as vacinas protegem ou não, e contra quais “tipos” de Covid-19? O Dr. Guilherme Furtado, líder médico da Infectologia do Hcor – hospital multiespecialista em São Paulo – esclarece algumas dúvidas importantes sobre a variante Delta.
1. Quais são os principais riscos da variante Delta?
A nova variante, também chamada de variante Delta, é a quarta variante de preocupação pela OMS. Ela é uma variante que está se disseminando pelo mundo agora, o que faz com que nós tenhamos diversos países com um número de casos progressivamente maior. No Brasil, nas últimas semanas, o Rio de Janeiro é o principal local em números de casos. A Delta é uma variante que nos preocupa, porque ela tem sete mutações e, uma delas, a mutação P681R, na proteína spike, é uma mutação que leva a uma maior quantidade de vírus nas vias respiratórias, uma maior transmissibilidade e, com isso, uma chance de disseminação mais importante na população, principalmente na parcela não vacinada.
2. A forma de transmissão dessa variante é a mesma?
Os modos de transmissão da Delta são basicamente iguais aos das outras variantes e também da cepa inicial, que surgiu na China. Não há um novo tipo de transmissão. O principal meio de contágio continua sendo por secreções respiratórias. A diferença é que a variante Delta possui uma transmissibilidade maior, pois carrega uma quantidade de vírus elevada, tornando o contágio mais frequente.
3. E quanto aos sintomas, a Delta possui manifestações diferentes?
Os sintomas parecem diferir um pouco nessa variante. Ela apresenta mais sintomas gripais, de via aérea superior, e também cefaleia (dor de cabeça). Um sintoma que está chamando bastante atenção é a coriza, algo que não víamos muito nas outras variantes, além de dor de garganta, podendo manifestar também febre e tosse.
4. As vacinas disponíveis trazem imunidade contra a variante Delta?
As vacinas que estão sendo utilizadas no Brasil aparentemente têm uma boa ação sobre a Delta. Os estudos estão sendo realizados, sobretudo, com as vacinas da Pfizer e da Astrazeneca, tendo menos estudos com a Coronavac e a Janssen. Uma publicação recente no New England Journal of Medicine, que é uma das maiores revistas médicas, comparando a resposta vacinal de pacientes que utilizaram a vacina da Pfizer e Astrazeneca, mostrou que, em casos da variante Delta, teve-se uma perda leve em termos de proteção com essas vacinas (5 a 6% de eficácia inferior em ambas as vacinas, em pacientes com as duas doses), mas ainda com desempenho elevado. Quanto à Coronavac, sua eficácia para a Delta foi anunciada pelo Governo do Estado de São Paulo em um estudo divulgado em 18 de agosto.
É fundamental que a população se vacine, independente do imunizante disponível, e que complete o ciclo vacinal com duas doses, porque apenas uma dose não é suficiente para a proteção contra o coronavírus, principalmente contra essa nova variante.
5. Como é a recuperação para quem contrai a doença?
Não há uma preocupação em termos de aumento de mortalidade ou de quadros mais severos com essa nova variante Delta. A princípio, a recuperação é semelhante, e depende do quadro clínico do paciente acometido. O que chama atenção mesmo é a maior transmissibilidade, que provavelmente vai atingir uma população ainda menos vacinada em nosso país e podendo se disseminar mais facilmente.
6. Qual é o tempo de isolamento necessário?
É importante ficar em casa na fase inicial e, se houver alguma piora de sintomas, como o aumento de febre, tosse e falta de ar, ou seja, sintomas mais intensos, deve-se procurar assistência médica para avaliação do quadro clínico e orientação mais segura, além de realizar exames. O isolamento é o mesmo, em torno de 14 dias para evitar a transmissão nesse intervalo.