* Por João Paulo Silveira
Quando falamos em tecnologia, esse conceito geralmente remete às mais inovadoras ferramentas e processos empregados para transformar o modo de se prestar serviços, desenvolver produtos e fazer negócios. E na Medicina, não é diferente. Entretanto, muitos ainda carregam consigo a errônea ideia de que a tecnologia compromete a proximidade do tratamento médico, quando, na realidade, ela é uma aliada, sobretudo no processo de desospitalização.
Pode parecer controverso o cenário em que um paciente se recupere de forma eficiente e, até mesmo, mais rápida estando em casa, sem toda a estrutura que um hospital oferece. Estudos e avanços na telemedicina mostram que esse cenário, além de ser possível, tem se tornado uma realidade no Brasil.
Com o uso da Internet das Coisas Médicas (IoMT) e Inteligência Artificial, o processo de desospitalização tem se difundido como uma opção que combina humanização e tecnologia ao tratamento, permitindo que os pacientes recebam os cuidados necessários na comodidade de suas casas, e tenham acompanhamento em tempo real, mesmo de maneira remota pela conexão 24h.
Se antes a desospitalização e a assistência médica domiciliar pareciam ser possibilidades apenas para população idosa, com a evolução tecnológica na Medicina, essas tem se tornado alternativas para trazer mais conforto, bem-estar e segurança ao tratamento de pacientes diversos e com variadas enfermidades, incluindo aqueles que necessitam de suporte respiratório por aparelhos 24 horas, 7 dias por semana.
Recentemente, estive à frente de um estudo com foco nessa parcela da população, da qual 75% necessitava de ventilação mecânica invasiva (pacientes traqueostomizados) e 25% utilizava algum tipo de interface oronasal. Com o uso do telemonitoramento domiciliar, foi possível identificar melhora clínica em 63% do total de pacientes, que apresentaram avanços positivos relacionados à ventilação mecânica, considerando frequência respiratória e modo ventilatório. Tudo isso, acompanhado da proximidade familiar e do ambiente acolhedor do próprio lar, que afeta positivamente a evolução do quadro clínico.
Esse tipo de estudo demonstra, na prática, como a tecnologia é uma ferramenta poderosa e aliada ao tratamento médico individualizado e especializado com base em dados, principalmente quando se trata de desospitalização. Além disso, todo esse processo faz com que a atuação domiciliar se torne um ambiente convidativo para novas empresas de home care com inovações diversas, ampliando a capacidade de oferecer serviços médicos.
De acordo com o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), o número de empresas de assistência domiciliar cresceu 88% nos últimos 4 anos. Até o final de 2022, foram registradas 1.167 empresas, todas regulamentadas pela resolução n° 1.668/2003, do Conselho Federal de Medicina.
Dito isso, torna-se notável o potencial promissor da tecnologia atrelada ao home care, e como essa evolução alcança a Medicina de ponta a ponta: no processo de desospitalização com a otimização do giro de leitos, no tratamento domiciliar personalizado, na inteligência de dados agregada à tomada de decisão dos profissionais da saúde e no mercado, com abertura para novos projetos. Assim, temos evidências para afirmar que hoje a tecnologia se tornou indissociável das ciências médicas e que, independente dos avanços conquistados, o foco segue o mesmo: o paciente e o seu bem-estar no centro.
* João Paulo Silveira atua há 20 anos no setor de assistência médica domiciliar e sono, é fundador da Domicile Home Care e sócio da holding Plural Care, além de membro do Conselho Fiscal Efetivo da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP). Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Silveira possui MBA em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas.