Esclerose múltipla: especialista esclarece mitos e verdades sobre imunização

• Doença afeta cerca de 35 mil brasileiros[1]

Não é incomum pacientes com doenças autoimunes ter dúvidas sobre vacinação. Devo me vacinar? Qualquer tipo de vacina é compatível? Quais são as recomendações? Para sanar essas e outras dúvidas, conversamos com o neurologista Dr. Herval Ribeiro Soares Neto, que explicou a importância da vacinação em quem lida com uma doença crônica, como a esclerose múltipla (EM), doença autoimune, na qual o sistema imunológico ataca o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal).

“Existem diversos mitos e argumentos contrários à vacinação. E quando se trata de imunização em doenças autoimunes, a desinformação normalmente é maior. Por isso, antes de mais nada, precisamos reforçar que o ganho com a imunização, de maneira geral, é muito grande, ultrapassa a prevenção individual”, esclarece o especialista.

Quem tem esclerose múltipla está mais suscetível a contrair infecções.

Verdade. Pessoas com a doença têm um risco maior de contrair infecção quando comparamos com quem não tem uma condição autoimune[2]. Isso pode acontecer porque quando a doença não está controlada, o corpo fica mais suscetível ao ataque de vírus e bactérias. E devemos lembrar que as infecções podem elevar o risco de surtos e aumentar a incapacidade[3], daí a relevância de se vacinar.

A vacinação não é recomendada em pessoas que têm EM.

Mito. A vacinação é um pilar da saúde pública e uma das formas mais seguras e eficazes de prevenir doenças infecciosas[4][5]. Órgãos internacionais, como a National Multiple Sclerosis Society e a Academia Americana de Neurologia (AAN), recomendam que pessoas com EM recebam vacinas de acordo com as diretrizes-padrão. As entidades propõem que a estratégia de imunização seja individualizada por paciente[6], uma vez que o aspecto clínico da esclerose múltipla varia de indivíduo para indivíduo.

Não é qualquer tipo de vacina que é recomendada para quem tem esclerose múltipla.

Verdade. As vacinas podem ser divididas em dois grupos: as atenuadas e as inativadas. Quem tem EM, deve evitar as vacinas atenuadas. Esse tipo de imunizante pode acentuar os sintomas da doença ou causar outros[1]. Por isso, é recomendado evitá-las. Entre as vacinas atenuadas, por exemplo, temos as de tuberculose, sarampo, caxumba, rubéola e da febre amarela, que são, geralmente, contraindicadas para pessoas com sistema imunológico enfraquecido[1]. Normalmente, as vacinas toleráveis em quem tem esclerose múltipla são as de vírus inativado[7], quando o agente infeccioso foi morto e é incapaz de causar a doença; de subunidade[1], quando é utilizada uma parte da proteína ou de um antígeno, e a toxoide[1][8], que contêm uma toxina bacteriana quimicamente modificada, que estimula uma resposta imunológica, ajudando a formação de anticorpos.

Quem usa medicamentos modificadores da doença não precisa reavaliar o status de vacinação para confirmar a imunoproteção.

Mito. Após a imunização é fundamental que o paciente faça uma reavaliação com o profissional de saúde para checar a imunoproteção[4]. A resposta autoimune pode variar em cada caso, por isso, a necessidade dessa checagem com o profissional de saúde que o acompanha.

Quem está em surto deve atrasar a vacinação.

Verdade. De acordo com as diretrizes internacionais, os pacientes em surto devem atrasar a vacinação. Contudo, não temos como estabelecer um período, pode variar de pessoa para pessoa. Esse prazo precisa ser discutido com o médico.

As recomendações a respeito da vacinação para quem tem EM, servem para todos os pacientes.

Mito. As recomendações podem variar. Os profissionais de saúde devem avaliar cada situação de maneira individual.

Para finalizar, Dr. Herval reforça que o paciente sempre deve buscar informações com um especialista. “O paciente deve seguir as recomendações de quem o acompanha. Esses profissionais são as pessoas mais aptas para dar as diretrizes mais adequadas, uma vez que conhecem o histórico e sabem qual é o perfil da doença do paciente”, conclui.

Saiba mais sobre a esclerose múltipla[9][10][11]: a EM é caracterizada por um processo de inflamação crônica que pode causar desde problemas momentâneos de visão, falta de equilíbrio até sintomas mais graves, como perda de visão e paralisia completa dos membros. A esclerose múltipla está relacionada à destruição da mielina – membrana que envolve as fibras nervosas responsáveis pela condução dos impulsos elétricos do cérebro, medula espinhal e nervos ópticos. A perda da mielina pode dificultar e até mesmo interromper a transmissão de impulsos nervosos. A inflamação pode atingir diferentes partes do sistema nervoso, provocando sintomas distintos, que podem ser leves ou severos, sem hora certa para aparecer. A doença geralmente surge sob a forma de surtos recorrentes, sintomas neurológicos que duram ao menos um dia. A maioria dos pacientes diagnosticados são jovens, entre 20 e 40 anos, o que resulta em um impacto pessoal, social e econômico considerável por ser uma fase extremamente ativa do ser humano. É uma doença inflamatória e degenerativa, que progride quando não tratada. É senso comum entre a classe médica que para controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença, o diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais.

Referências

[1] Guia de Discussão sobre Esclerose Múltipla no Brasil – Juntos para um Novo Futuro. Acesse em: www.guiadaem.com.br
[2] Luna G et al. JAMA Neurol. 2019;77(2).
[3] Loebermann M et al. Nature Rev Neurol. 2012;8:143-151.
[4] Chevalier-Cottin E. Infect Dis Ther. 2020 Jun 24 [Epub ahead of print].
[5] Poljak M et al. Clin Microbiol Infect. 2014;20 Suppl 5:1.
[6] Farez M et al. Neurology. 2019;93:584-594.
[7] Ciotti J. Mult Scler Relat Disord. 2020 Aug 1;45:102439 [Epub ahead of print].
[8] Vetter V et al. Ann Med. 2018. 50:110-120.
[9] Neeta Garg1 & Thomas W. Smith2. An update on immunopathogenesis, diagnosis, and treatment of multiple sclerosis. Barin and Behavior. Brain and Behavior, 2015; 5(9)
[10] Noseworthy JH, Lucchinetti C, Rodriguez M, Weinshenker BG. Multiple sclerosis. N Engl J Med. 2000;343(13):938-52.
[11] Cristiano E, Rojas J, Romano M, Frider N, Machnicki G, Giunta D, et al. The epidemiology of multiple sclerosis in Latin America and the Caribbean: a systematic review. Mult Scler. 2013;19(7):844-54.

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