Levantamento buscou informações sobre a atenção primária, secundária e terciária pelo Sistema Único de Saúde
O Brasil ainda tem muito a avançar no atendimento aos pacientes com epilepsia em todos os níveis de atenção à saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Estimativas apontam que cerca de 2,6 milhões de brasileiros tenham a doença. Apesar das lacunas na assistência, existem muitas oportunidades de melhorias – e algumas delas já foram adotadas por centros de referência. Esses dados fazem parte do Diagnóstico Situacional e Estratégias de Enfrentamento ao Paciente com Epilepsia no SUS, projeto do Ministério da Saúde realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS).
De acordo com o médico Eliseu Paglioli, responsável técnico do projeto, a iniciativa surgiu da necessidade de compreender o cenário da doença no país. “Propusemos fazer essa pesquisa para esclarecer a situação em todos os níveis da atenção em saúde, pois só conseguimos tratar alguma coisa quando temos o diagnóstico”, detalhou Paglioli.
Para realizar o trabalho, os pesquisadores visitaram e entrevistaram representantes de 31 hospitais brasileiros com serviços de neurologia credenciados pelo SUS. Foram levantadas informações de todas as regiões do país.
Conforme o levantamento, nos últimos oito anos – de 2015 a 2022 –, foram realizadas cerca de 120 mil neurocirurgias pelo SUS no país. Desse total, apenas 2,8 mil foram para tratar epilepsia – média de 350 por ano. Além disso, foi observada uma disparidade entre a quantidade de exames de investigação da epilepsia e o quantitativo de procedimentos realizados.
“Foram 13.152 investigações com vídeo encefalograma (VEEG) em oito anos. Mas por que se chegou àquela necessidade de examinar e não se ofereceu tratamento?”, questionou o médico, comparando os números de exames e de cirurgias efetuadas.
Após visita da equipe de pesquisa, centros buscam melhorias
De todos os locais visitados, a situação mais preocupante encontrada pela equipe foi na região Norte, onde não foi realizada nenhuma cirurgia de epilepsia durante esse período. Em contrapartida, o Sudeste foi o que mais realizou o procedimento: foram 1.629, uma média de 204 por ano.
“Isso não é nenhum demérito, mas o Brasil vai ter que capacitar centros do Norte e do Nordeste”, sublinhou Paglioli.
O diagnóstico também identificou que, das 26 capitais visitadas mais o município de Anápolis, em Goiás, apenas oito lugares (29,6%) conhecem o número de usuários com epilepsia no território. A carência de dados prejudica o planejamento de ações para assistência adequada a esses pacientes e seus familiares.
“Para esse aspecto, sugerimos organizar o registro obrigatório da Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP) e do Código Internacional de Doenças (CID-10) na atenção especializada para identificação dos pacientes com epilepsia para que consigamos ter a quantidade real de usuários com a doença”, apontou a pesquisadora do Hospital Moinhos de Vento Bruna Luiza Holand.
Apesar de o trabalho ter apontado falhas – desde falta de informações sobre o número de usuários com a doença até problemas na comunicação entre os três níveis de atenção –, parte dos locais visitados já acolheram as sugestões dadas pelo grupo de pesquisadores. Muitos serviços estão investindo em capacitação profissional, estruturação de fluxos, aquisição de equipamentos e reativação de cirurgias, o que reitera o impacto positivo da iniciativa.
Crédito da foto: Carolina Ferreira Pitta/Hospital Moinhos de Vento