Setor público da saúde encolheu por conta da pandemia de Covid-19 e uma tabela defasada do SUS, revela pesquisa

Levantamento inédito, realizado pela ABRAIDI pelo quinto ano consecutivo, constata que as associadas têm deixado de atender o SUS por inviabilidade financeira causada por uma tabela de preços que não é reajustada há mais de 20 anos e subfinanciamento. Mais de 75% dos brasileiros são atendidos pelo sistema público

A Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde – ABRAIDI – acaba de concluir um amplo estudo setorial que chega em sua 5ª edição e foi apresentado em evento híbrido (online e presencial), em São Paulo, com debates sobre soluções para a saúde pública e privada. A pesquisa “O Ciclo de Fornecimento de Produtos para Saúde no Brasil” trouxe dados revelando que o SUS encolheu nos últimos dois anos, por conta de quedas sucessivas nos procedimentos eletivos e na aquisição de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs), além de uma tabela de preços de referência que inviabiliza a comercialização e as empresas de produtos para a saúde já têm deixado de fornecer ano após ano.

“Com a pandemia de Covid-19, os brasileiros tiveram a clara noção da importância de termos um sistema público de saúde que funcione, já que o SUS atende mais de 75% da população”, destacou o presidente da ABRAIDI, Sérgio Rocha que completou: “mas, infelizmente, a nossa pesquisa constatou que o SUS saiu menor dessa pandemia do que antes dela”. O consumo de produtos para a saúde que, em 2019, estava em R$ 1,522 bilhão, caiu para R$ 1,333 bi, em 2020 e, no ano passado, recuou ainda mais para R$ 1,276 bi, ficando no menor patamar dos últimos 7 anos, enquanto o sistema privado já reagia em relação à crise sanitária“.

“A paralisação dos procedimentos eletivos poderiam justificar essa dupla queda, em 2020 e 2021, mas no segundo semestre, o setor privado retomou as cirurgias programadas e o SUS tem se mostrado muito mais moroso nessa volta do que imaginávamos. Fato que é extremamente preocupante, pelo gargalo que naturalmente já existe nos atendimentos públicos”, contextualizou Rocha. Os 10 principais gastos realizados pelo SUS, no ano passado, foram: stents farmacológicos (10,7%), stents para artéria coronária (7,7%), marca-passo (6,6%), cateter balão para angioplastia (3,8%), desfibrilador implantável (3,5%), conjunto para circulação extracorpórea (3,2%), desfibrilador com marca-passo (3,1%), grampeador cirúrgico (2,7%), prótese para implante coclear (2,4%) e dispositivo para fixação de haste (2,4%).

Embora o SUS movimente grandes volumes de recursos e materiais por atender mais de 210 milhões de brasileiros, sendo que mais de 75% dependem exclusivamente dele para qualquer assistência de saúde, o setor público vem perdendo espaço no faturamento dos associados ABRAIDI. A participação das fontes pagadoras privadas no faturamento dos associados da ABRAIDI tem crescido de maneira inversamente proporcional à queda de participação do setor público. De 2018 para o ano passado, o SUS representou, respectivamente, 27%, 22%, 19% e, por fim, apenas 17%do faturamento das empresas.

“Um dos principais motivos é a defasagem da tabela de valores de referência pagos pelo SUS, que permanece sem reajuste há cerca de 20 anos e que, recentemente, sofreu redução significativa nos valores de uma cesta de produtos da área cardiológica, agravando ainda mais a situação”, lembrou Sérgio Rocha. “Vale destacar que entre os 10 itens mais consumidos pelo SUS somente dois não estão relacionados com à cardiologia”, complementa. As doenças cardiovasculares representam as principais causas de morte no Brasil com cerca de 30% de todos os óbitos. “Deveria receber mais atenção e não o contrário”, completou.

Já em relação à distribuição do faturamento dos associados por tipos de clientes, a participação do SUS é ainda menor: 9% vêm de hospitais públicos, 25% de hospitais privados, 28% de operadoras ou planos de saúde não integrados a hospitais (não verticalizados) e 28% de operadoras ou planos de saúde integrados a hospitais (verticalizados).

          “É inegável a importância do SUS no Brasil, com uma população carente tão grande, mas se ele é tão importante, precisa ser prioridade em todos os sentidos, principalmente na destinação de recursos e não o contingenciamento dos mesmos”, concluiu Sérgio Rocha.