Especialista da Fundação São Francisco Xavier alerta para os perigos do uso destas medicações por quem não tem indicação médica
Com a proximidade do verão, o desejo de ficar em forma leva muitas pessoas a buscarem fórmulas mágicas e rápidas para reduzir peso. Uma delas é o uso inadequado de remédios que inibem o apetite e saciam a fome, os anorexígenos. Essas medicações, no entanto, somente têm prescrição para alguns casos. Se utilizadas sem indicação médica e tratamento adequado podem causar problemas sérios à saúde. O alerta é da médica endocrinologista da Fundação São Francisco Xavier, Camila Teixeira Costa, que explica quais são os casos indicados e por quais motivos esses remédios não devem ser utilizados por outras pessoas.
Segundo a médica, os anorexígenos são utilizados somente para tratamento da obesidade. “É preciso ficar bem claro que os remédios conhecidos popularmente como emagrecedores fazem parte do tratamento da obesidade. Eles não têm indicação alguma para quem não tenha a doença ou mesmo só queira um emagrecimento rápido. Para essas pessoas, a prescrição é a alimentação saudável, com reeducação alimentar e a prática de exercícios físicos regulares”, explica.
A endocrinologista explica que a obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, desencadeada por vários fatores, entre eles os genéticos, hormonais, comportamentais e até mesmo culturais. “Ela é crônica e progressiva. Para ser considerada obesa uma pessoa deve ter um IMC – índice de massa corporal acima de 30. O IMC é a medida do peso de um indivíduo dividido pela altura dele ao quadrado”.
Padrão de beleza
A profissional de Recursos Humanos, Thaísa Brunelli, de 35 anos, começou a fazer uso de remédios para emagrecer ainda na adolescência por não se enquadrar nos padrões de beleza. “O que eu achava bonito eram as mulheres magras. Eu queria ser uma, mas eu era gordinha. Fazia diversas dietas. No verão ficava ainda mais preocupada com o corpo. Queria perder peso de todo jeito e ficar com a barriga seca. Foi aí que comecei a tomar esses remédios sem um acompanhamento médico adequado”, lembra.
Entre 18 e 21 anos, Thaísa tinha um índice de massa corporal de 28, o que não é considerado obesidade, e sim, sobrepeso. Com o uso dos remédios, Thaísa chegava a emagrecer rapidamente. “Eu ficava muito feliz. Era tomar aquilo e em um ou dois meses eu perdia muito peso”, lembra. Os remédios provocaram diversos efeitos colaterais nela. “Tinha muita diarreia, insônia, ficava irritada com frequência e às vezes sentia muitos tremores, mesmo assim o que importava era o resultado final”, lembra.
A briga com a balança foi frequente na vida de Thaísa. Aos 22 anos e já casada, Thaísa chegou à obesidade, fez um acompanhamento mais sério e relata mudanças. “Por volta dos 26 anos fiz o projeto equilibrar, mudei a alimentação, fiz atividade física e contei com a ajuda de uma medicação que me ajudou a emagrecer”.
No entanto, depois que chegou o primeiro filho, na correria do dia a dia, ela confessa que relaxou com o tratamento e voltou a engordar. “Eu não fazia mais as coisas certas, não tinha tempo. Depois que me tornei mãe, desbandou tudo mesmo, sendo que aos 29 tive a doença autoimune e piorou a situação porque ganhei muito peso no tratamento com corticóide”. E acrescenta. “Cheguei a pesar 105 kg e perdi o controle da situação. Acabei apelando para uma cirurgia bariátrica”.
Indicação
Segundo a endocrinologista, os remédios para o tratamento da obesidade agem reduzindo o apetite, aumentando a sensação de saciedade ou mesmo diminuindo a absorção da gordura dos alimentos. A indicação da medicação é feita de forma individualizada por meio de uma consulta médica detalhada.
Além do IMC acima de 30, os remédios anorexígenos podem ser indicados para pessoas com obesidade visceral (circunferência abdominal acima de 80 para as mulheres e acima de 90 para homens) e que sejam portadores de outras doenças provenientes do sobrepeso.
Efeitos colaterais
Entre os principais efeitos colaterais desses remédios estão a dor de cabeça, boca seca, diarreia, náuseas, tonteira e irritabilidade. “Algumas medicações, derivadas da anfetamina, foram proibidas no passado devido a recorrência e gravidade dos efeitos adversos. As medicações hoje liberadas para o tratamento da obesidade são seguras, se usadas sob o acompanhamento médico.”, explica Camila.
No entanto, não é raro ver pessoas que sofrem com o uso inadequado. “Alguns pacientes fazem uso de associações de medicações, fórmulas prescritas por não especialistas inclusive, com o intuito de emagrecimento rápido podendo provocar distúrbios hormonais importantes. Isso tudo em excesso pode causar inclusive arritmias cardíacas com complicações severas levando até à morte. É indispensável o tratamento certo e acompanhamento regular com o médico especialista.”, conclui.