Por Carlos Rubim
As instalações médicas e todo o ecossistema da saúde nunca foram tão demandados. Para agravar o cenário, o vazamento de gases comprimidos tornou-se um problema recorrente e apresenta riscos inerentes, especialmente no ambiente hospitalar, no qual os riscos são ainda maiores devido à natureza do negócio. Durante a pandemia, o problema é ainda mais crítico, uma vez que os locais de atendimento ao paciente são mais utilizados e há pouca oportunidade de realizar verificações regulares onde os gases são administrados. Como os sistemas estão funcionando em sua capacidade máxima, a probabilidade de vazamentos aumenta e a necessidade de solucionar esta questão é mandatória.
Existem algumas semelhanças entre os gases utilizados em plantas industriais e nas instalações da área da saúde, mas a similaridade mais comum é o fato de que eles tendem a vazar nos mesmos lugares e da mesma forma. Hoje, os gases medicinais e as instalações em que são utilizados criam desafios diferentes para as equipes de manutenção. A falha durante o monitoramento e diagnóstico destes vazamento podem expor os funcionários e pacientes a riscos desnecessários, além de custos adicionais de manutenção e paradas não planejadas no funcionamento dos equipamentos e instalações hospitalares.
Gases medicinais, usos e restrições
Além de cuidar de pacientes, as unidades de saúde estão constantemente tentando reduzir o risco. Há centenas de variáveis que precisam ser monitoradas de perto em relação a equipamentos, tratamentos, suprimentos e condições ambientais para proteger os pacientes e a equipe hospitalar.
Um dos suprimentos mais importantes que deve ser gerenciado é o gás medicinal comprimido. Esses gases são atualmente regulamentados como produtos farmacêuticos, o que significa que exigem prescrição para o uso. Tratam-se de medicamentos administrados com muita frequência e, por isso, devem ser transportados, armazenados e dispensados de acordo com rígidos padrões, que se estendem a componentes de entrega, como tanques, reguladores e tubos.
Os gases medicinais mais comuns certificados para uso em cuidados médicos incluem o oxigênio – usado em pacientes que não têm oxigênio suficiente no sangue devido a doenças ou lesões; o nitrogênio – normalmente utilizado para alimentar equipamentos cirúrgicos, congelar e preservar sangue, tecido e outras amostras biológicas; o óxido nitroso – aplicado para aliviar a dor, especialmente em procedimentos dentários e pré-operatórios; dióxido de carbono – usado em cirurgia a laser e laparoscópica, além de uso combinado com oxigênio para tratar distúrbios respiratórios; o gás hélio – utilizado para tratar obstruções das vias aéreas superiores ou aumentar a resistência das vias aéreas para que os pacientes possam respirar mais facilmente; ar medicinal – usado principalmente em unidades de terapia intensiva (UTI) e com nebulizadores pulmonares para reduzir o risco de excesso de oxigênio nos pulmões e outros tecidos do corpo enquanto o paciente está em um ventilador ou durante procedimentos cirúrgicos; e finalmente, o monóxido de carbono – usado em quantidades muito pequenas no teste de difusão pulmonar para ajudar a determinar o quão bem os pulmões de um paciente estão trocando gases.
Muitos desses gases individuais também podem ser misturados para outros diagnósticos de pacientes, para calibrar e manter dispositivos médicos, ou no laboratório para controlar o crescimento de culturas de células biológicas ou tecidos.
Alguns desses gases – em especial oxigênio e óxido nitroso – são extremamente voláteis se presentes em concentrações altas o suficiente fora das aplicações controladas. Portanto, os sistemas de armazenamento e distribuição devem ser monitorados de perto, para atender critérios específicos criados para garantir a segurança da equipe médica, pacientes e visitantes das unidades hospitalares.
Riscos associados a vazamentos de gases medicinais
Independentemente de como o gás medicinal é armazenado ou dispensado, todos os componentes da entrega devem ser inspecionados regularmente quanto a vazamentos. Isso é especialmente crítico para a equipe de saúde que trabalha dentro ou ao redor de laboratórios ou salas de cirurgia. Um estudo da The Joint Commission revelou que os funcionários de hospitais que trabalham nessas áreas têm maior probabilidade de se ferir pela exposição a gases medicinais do que os trabalhadores de outras áreas.
Grande parte dessa exposição vem de gases anestésicos residuais, que são pequenas quantidades de gases voláteis, que podem vazar do circuito de respiração do anestésico se os conectores, tubos e válvulas não forem mantidos e firmemente conectados. Vazamentos também podem ocorrer quando o sistema está sendo conectado e desconectado. A volatilidade desses gases apresenta um risco potencial de incêndio e danos potenciais aos profissionais de saúde se vazados em quantidades suficientes. Além disso, o vazamento de gases medicinais contribui com gases maléficos de efeito estufa, impactando o meio ambiente.
Além dos riscos, o gás medicinal é um item caro, portanto, os vazamentos podem ser bastante onerosos. Vazamentos em sistemas de suprimento de ar comprimido também podem desperdiçar, mensalmente, milhares de reais em custos de energia e causar uma queda na pressão do sistema como um todo. Essa perda de pressão pode afetar o desempenho dos instrumentos médicos ou a aplicação eficaz dos tratamentos necessários aos pacientes em situações de emergência, terapia intensiva ou cirúrgica. Para evitar o risco de potenciais perdas de pressão do ar, muitas instalações de saúde superdimensionam seus compressores de ar, o que adiciona ainda mais custos ao sistema.
A importância da detecção de vazamento de gases medicinais
A detecção de vazamentos em sistemas de fornecimento de gás medicinal comprimido eleva o nível de complexidade devido à natureza dos gases e ao ambiente desafiador em que são utilizados. Encontrar esses gargalos em sistemas de ar comprimido é um desafio para todas as indústrias e no setor de saúde, o cenário não é diferente.
Embora os vazamentos de gás comprimido tenham o potencial de criar sérios desafios para as equipes de manutenção em qualquer setor, está claro que o setor de saúde provavelmente é o que possui mais desafios. Os riscos de exposição a gases tóxicos podem causar sérios danos em pessoas que tenham uma exposição de longo prazo.
A boa notícia é que muitas destas consequências podem ser reduzidas com um sistema de detecção de vazamentos. Com a evolução da tecnologia, o mercado dispõe hoje de recursos eficientes para detectar esses vazamentos em todo o ambiente hospitalar, inclusive em tubos centrais de suprimento de ar e sistemas de fornecimento de gás medicinal.
Detectar de vazamentos por meio de equipamentos não intrusivos, seguros e precisos, permite que as equipes de manutenção deste setor localizem, consertem e confirmem vazamentos de gás de forma rápida e eficaz. Por isso, fomentar a discussão sobre este tema e encontrar soluções viáveis para solucionar o problema devem ser pauta prioritária na agenda das organizações de saúde. Um debate que salva vidas.
Carlos Rubim é Gerente de Produtos da Fluke Brasil, companhia líder mundial em ferramentas de teste e medição presente em diversos segmentos da indústria.