Contágio por Covid pode ter consequências à saúde mental

Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP) alerta para cuidados com a saúde mental pós contágio com Covid

Há quase um ano, convive-se com os desafios de lidar com uma pandemia por conta de um vírus que ainda se sabe pouco a respeito. Tanto em como ele se comporta no organismo humano, bem como os desdobramentos desse contágio, possíveis tratamentos e, até mesmo, a que ponto ele pode trazer complicações muito além do sistema respiratório. Nesse contexto, as preocupações com a saúde mental têm ganhado projeção, principalmente, em decorrência das múltiplas implicações psicossociais dessa doença na vida das pessoas. Mas, além disso, o impacto da infecção para o sistema nervoso central e suas consequências neurológicas e psiquiátricas vem sendo relatadas. Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP) traz a discussão em pauta para que as pessoas que passaram pelo quadro infeccioso estejam atentas à sua saúde mental.

Em um primeiro momento, nos primeiros meses de pandemia, a preocupação maior era com a imprevisibilidade da situação por tempo indeterminado, além da incerteza de quando, como o isolamento social e a pandemia estariam resolvidos. Cenário que acabou contribuindo para que quadros de ansiedade e depressão, por exemplo, aumentarem consideravelmente. No entanto, essa preocupação estende-se a casos de desdobramentos pós contágio com a Covid, com relatos de inícios de sintomas de Transtornos psiquiátricos diversos, além de Transtorno de Estresse pós-Traumático. Ainda há muito a ser pesquisado, mas na prática e em alguns estudos já se percebem derivações dessa doença em quadros de saúde mental.

A psiquiatra Deisy Mendes Porto, presidente da ACP, destaca a importância de as pessoas que tiveram coronavírus se prevenirem, mantendo um estilo de vida saudável e ficarem atentos caso apresentem sintomas cognitivos, depressivos ou ansiosos, mesmo meses depois de já terem feito o tratamento da doença. “Há muito o que ser estudado nos desdobramentos do coronavírus no nosso organismo. Contudo, quem teve contato com o vírus deve ficar atento a possíveis complicações que, em um primeiro momento, não foram percebidas. Já há casos diagnosticados de pessoas que apresentaram alterações neurológicas e psiquiátricas associadas à infecção pela Covid. Então, há um impacto importante psicossocial – com o medo da infecção, impactos no trabalho, educação e relações sociais – mas também um impacto direto biológico, por alterações neurais, imunes e endócrinas relacionadas à infecção, que podem levar a vários transtornos mentais. Transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade e impactos na memória e cognição já foram descritos em pacientes com a doença.”, declara a psiquiatra.

Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) divulgou o resultado da pesquisa realizada entre seus associados, médicos psiquiatras de 23 estados e do Distrito Federal, em que foi identificada a realidade dos atendimentos psiquiátricos durante a pandemia de Covid-19 em todo o país.

47,9% dos entrevistados perceberam aumento em seus atendimentos após o início da pandemia. Neste grupo, os atendimentos cresceram até 25% quando comparados ao período anterior para cerca de um terço dos entrevistados (59,4%).

A pesquisa também teve como objetivo identificar os atendimentos a pacientes novos, que apresentaram recaída após o tratamento já finalizado ou o agravamento de quadros psiquiátricos em pacientes que ainda estão em tratamento. 67,8% responderam que sim, receberam pacientes novos após o início da pandemia, pessoas que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes.

69,3% do grupo informaram que atenderam pacientes que já haviam recebido alta médica e que tiveram recidiva de seus sintomas, que retornaram ao consultório ou fizeram novo contato para atendimento. Além disso, 89,2% dos médicos entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de Covid-19.

O aumento da sintomatologia ansiosa e de quadros de depressão, ansiedade e transtorno de pânico, bem como alterações significativas no sono, também foi destacado pelos participantes da pesquisa.

Entre o grupo que não percebeu aumento nos atendimentos durante a pandemia, 44,6% do total de entrevistados, uma questão discursiva apontou o movimento contrário, a queda no número de atendimentos. Nos principais motivos listados, figuraram a interrupção do tratamento por parte do paciente devido ao medo de contaminação, queda no atendimento aos grupos de risco, e as restrições de circulação impostas por algumas localidades.