DF tem estudo inédito sobre frequência da cegueira e visão subnormal

Pesquisa conduzida na capital federal aponta catarata e glaucoma como as principais causas desses problemas

Estudo publicado recentemente no site Arquivos Brasileiros de Oftalmologia comprovou que catarata e glaucoma são as principais causas para visão subnormal e cegueira na população do Distrito Federal. O trabalho foi realizado por meio de revisão de prontuários de pacientes com visão subnormal e cegueira de uma fundação de assistência oftalmológica de referência na capital federal, durante os anos de 2016 a 2018. Para ser incluído no estudo, a acuidade visual com correção (AVCC) deveria ser pior que 20/60 no melhor olho na primeira consulta. Dos 3.002 prontuários analisados, foram elegíveis 258 casos de cegueira e deficiência visual, sendo 39,1% dos pacientes homens e 60,9% mulheres. Foram estudadas variáveis como gênero, idade e área de procedência. “Catarata e glaucoma foram as duas causas mais frequentes de visão subnormal e cegueira nos dois olhos. Dos 97 pacientes submetidos a tratamento ocular, sete pacientes (7.2%) não melhoraram a acuidade visual com correção após o procedimento. Todos eles apresentavam glaucoma como sua etiologia primária de cegueira e visão subnormal”, destaca o Dr. Ricardo Yuji Abe, especialista em Glaucoma do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB) – empresa do grupo Opty – um dos coordenadores da pesquisa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) caracteriza cegueira quando a acuidade visual melhor corrigida (BCVA – sigla em inglês para best-corrected visual acuity) é pior que 1,3 logMAR, no melhor olho. A OMS considera baixa visão ou deficiência visual quando a BCVA fica entre 0,5 e 1,3 logMAR, no melhor olho. Para a conclusão do estudo, os pacientes foram divididos em dois grupos: 86 pacientes que tinham o mesmo BCVA em ambos os olhos e 172 pacientes que tinham BCVAs diferentes. As causas primárias mais frequentes neste último grupo foram catarata (65,7%), glaucoma (6,4%) e opacificação da cápsula posterior (5,8%). “Após o tratamento, 88,7% dos pacientes tiveram melhora da visão em 0,5 logMAR ou melhor. Dos outros 11,3% pacientes, no entanto, 7,2% não apresentaram melhora na BCVA após o procedimento e o restante experimentou piora da BCVA em mais de 0,5 logMAR. Em todos eles, o glaucoma foi a principal causa de deficiência visual”, afirma Yuji Abe.

O oftalmologista ressalta que o trabalho é uma contribuição importante para que se entenda como anda a saúde ocular do brasiliense, já que dados sobre a frequência de cegueira e baixa visão na região Centro-Oeste do Brasil são bem escassos. “Os números encontrados aqui em Brasília corroboram os achados relatados em populações globais”, observa. Nos pacientes investigados no DF, predominou a catarata: 89% tinham mais de 50 anos e 57,91% eram do sexo feminino. Esses resultados são bastante semelhantes ao relatado no Los Angeles Latino Eye Study*, que afirma que 80% das pessoas com deficiência visual em todo o mundo têm 50 anos de idade ou mais, e que as mulheres são as que têm uma evolução muito mais grave da deficiência visual com o avançar da idade. “Vale ressaltar, no entanto, que apesar de ser a causa mais prevalente de deficiência visual, a perda visual por catarata é reversível. Já a alta frequência de deficiência visual irreversível e cegueira em pacientes com glaucoma é uma grande preocupação. A população brasileira está crescendo em número e envelhecendo; assim, o risco de cegueira e deficiência visual pode aumentar ainda mais. Nossos achados destacam a importância do acesso a cuidados oftalmológicos adequados para minimizar o risco de cegueira e deficiência visual”, finalizou o Dr. Ricardo Yuji Abe.

* Varma R, Ying-Lai M, Klein R, Azen SP, Los Angeles Latino Eye Study Group. Prevalence and risk indicators of visual impairment and blindness in Latinos: the Los Angeles Latino Eye Study. Ophthalmology. 2004;111(6):1132-40.