Com avanço na inteligência artificial e análise de dados, gadgets e wearables vão conectar-se à rede de saúde; paciente será beneficiado, mas regulação e proteção de dados ainda são desafios do setor
Os IoMTs (Internet das Coisas Médicas) e os wearables (aparelhos inteligentes vestíveis) estão evoluindo em precisão e integração, podendo se conectar aos sistemas de saúde privada e pública, ajudando os médicos com os diagnósticos e os pacientes a evitar hospitalizações e até a baratear seus planos de saúde.
A previsão é de três especialistas brasileiros do segmento: Claudio Giulliano, CEO da FOLKS; Felipe Reis, gerente executivo de Tecnologia Médica e Inovação na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; e André Cripa, Chief Innovation e Digital Officer na CTC.
“O volume de dados coletados por esses aparelhos é imenso, então, muito provavelmente vamos caminhar para interfaces inteligentes que ajudem a processá-los e direcionem o que é relevante para os profissionais de saúde”, afirma o médico Felipe Reis, que vê esses dispositivos como parte do atendimento de telessaúde no futuro.
“Os IoMTs vão impulsionar cada vez mais o compartilhamento das informações entre os envolvidos no sistema para enxergarmos o paciente de forma integral, que é o que chamamos de interoperabilidade. Quem ganha com isso é o próprio paciente”, afirma Cripa, que é especialista em Transformação Digital na Saúde pela Harvard Medical School e Economia da Saúde pela Harvard Business School.
Segundo ele, o desafio é a regulação, necessária para a proteção dos dados dos pacientes e confirmação da acurácia dos dispositivos. É um processo complexo mas necessário, que já está na pauta da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “Outro desafio é como transformar esse dado coletado a todo momento, com aplicativos pessoais e equipamentos médicos, em um dado clínico consistente, ou seja, em informação.”
Para os especialistas, dispositivos de medição e equipamentos vestíveis com dados cada vez mais precisos são o primeiro passo para o diagnóstico e são muito promissores na saúde digital. O segundo passo, concordam os especialistas, é a interoperabilidade desses aparelhos com os sistemas, que precisam captar essas informações, para gerar as bases de dados da saúde.
“Esses dados vão gerar insights individuais que podem ajudar na gestão da saúde populacional”, afirma o médico Claudio Giulliano, da FOLKS. “É um potencial gigante de Inteligência Artificial usado para a saúde e em tempo real.” O médico vê avanços nessa direção a partir das bases de dados, como as de vacinação e Covid-19, criadas durante a pandemia pelos sistemas do ConecteSUS, no Brasil, e por outros pelo mundo.
Do hálito ao cinto
Empresas de IA têm desenvolvido equipamentos surpreendentes, como um dispositivo que avalia, pelo hálito matinal, qual é a dieta ideal e o que falta em sua alimentação. Há também um cinto, produzido na Coreia, capaz de monitorar a alimentação, os batimentos e de fazer uma previsão de queda baseada no balanço na hora de andar. “Mas o cinto também é bonito, o que é mais uma motivação para o paciente usar. É a tecnologia cada vez mais voltada às pessoas”, comenta Reis.
Para André Cripa, esses avanços tecnológicos devem beneficiar o paciente, que passará menos tempo em hospitais e poderá pagar menos por um plano de saúde. “O futuro do paciente não é no hospital, é ser tratado em casa, e, para isso, os dados precisam trafegar de forma segura, inteligente e fácil de usar. A interoperabilidade é base para essa transformação”, acredita.
Baseado em hábitos de saúde, por exemplo, será possível saber seus hábitos de saúde, como alimentação e atividade física – com isso, melhorando seu rating na operadora de saúde. “Ter a informação do paciente vai ser melhor para todos os envolvidos, inclusive para o paciente. Quando isso for melhor explorado, esse jogo vai mudar”, conclui Cripa.