Janeiro Branco: a saúde mental não pode ser mais um tabu

De Rafael

Rafaella Cristina Curatolo, psicóloga, diz ser importante que as pessoas entendam que quando se fala sobre saúde mental não está apenas focando na ausência de doenças ou sintomas, mas sim na promoção de bem-estar

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que o Brasil é o país que concentra o maior número de pessoas ansiosas no mundo. O percentual estimado é de que 9,3% da população, o que representa 18,6 milhões de brasileiros que convivem com o transtorno.

Outro levantamento realizado pela OMS mostra que 5,8% dos brasileiros sofrem com a depressão, sendo a maior taxa da América Latina, e a segunda maior das Américas, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Infelizmente, ainda é motivo de tabu falar sobre depressão, ansiedade e outros transtornos mentais que afetam a população brasileira. No entanto, os dados da OMS mostram que além de necessário, é urgente debater o tema e combater o preconceito. Para difundir a importância do assunto, foi criado o movimento Janeiro Branco, que tem o objetivo de conscientizar e falar abertamente sobre os cuidados com a saúde mental.

“É importante que nós, como pessoas e cidadãos, possamos ter um olhar mais amplo sobre a questão mental. Entender que quando falamos em saúde mental não estamos apenas focando na ausência de doença ou sintomas, mas sim na promoção de bem-estar. Janeiro Branco traz a possibilidade em nos conscientizarmos sobre o assunto, em perceber que nossos comportamentos e estilos de vida influenciam na saúde e podem gerar sofrimento”, afirma Rafaella Cristina Curatolo, psicóloga da clínica Atende Mais.

Ninguém fica depressivo ou ansioso do nada, os sintomas são produtos de processos que vêm ocorrendo num espaço-tempo, por isso é preciso falar sobre as dificuldades. Ao invés de interpretar como fraqueza ou “bobeira”, é necessário compreender que há um sentido por de trás dessas emoções, e que apenas ao compartilhá-las é que é possível elaborar o sofrimento.

“O que venho observando, em minha experiência, é que a pandemia serviu como um enorme catalisador de sintomas e sofrimento mental. As pessoas tiveram que lidar com o desconhecido e tiveram que o fazer da maneira oposta ao extinto primitivo, se isolando ao invés de estarem unidas nas dificuldades. Além da solidão, outros determinantes como a preocupação com os entes queridos, com a situação financeira e econômica, o convívio obrigatório com pessoas sob o mesmo teto, a imposição emergencial de medidas de distanciamento que conflitam com a sensação de liberdade, as perdas sofridas, foram enormes frustrações para as pessoas, tornando-as mais vulneráveis a qualquer indisposição mental. A verdade é que fomos expostos ao nosso limite psicológico nesse tempo, e cada pessoa reagiu de acordo com a própria personalidade ou organização mental que possui, se uns mostraram sentimentos de coletividade e maior compaixão, muitos também mostraram tamanho egoísmo”, comenta a psicóloga.

Exercícios diários para melhorar a saúde mental

Além dos exercícios físicos diários que são benéficos também na promoção de saúde mental, existem alguns exercícios cognitivos de respiração e meditação que podem auxiliar no controle da ansiedade e na promoção de bem-estar.

Geralmente, os profissionais da área de saúde mental, utilizam exercícios que mostram para o cérebro que estamos presentes no momento do agora e que não há razão alguma para estarmos em alerta ou antecipando pensamentos sobre o futuro.

“Durante uma crise de ansiedade, a pessoa deve mandar o comando de que está protegida, e para isso, usamos técnicas de respiração que lentamente deve-se inspirar pelo nariz e expirar pela boca, focalizando em objetos disponíveis no lugar em que esteja. Usa-se o tato, o olfato, a visão e até mesmo o paladar para a descrição do objeto, que condiciona o lado racional e minimiza o descontrole emocional na crisa”, explica Rafaella Cristina Curatolo.

Também há estudos que comprovam o poder da meditação diária como prevenção aos sintomas mentais.

Como ajudar?

Primeiramente, não julgue! Busque acolher a pessoa em sofrimento, entendendo sempre que há algo por trás daquele sintoma.

Não interprete como frescura, fraqueza, loucura, nem minimize o que a pessoa está sentindo, ouça e a ajude buscando um profissional de saúde mental. É legal que o amigo ou o familiar se ofereça para acompanhar a pessoa em sofrimento na primeira consulta, isso a tornará mais segura. Também é importante lembrar que ninguém quer estar realmente nessa situação, que pode ser de extrema angústia para todos.

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