Saúde Mental em 2022: o que estará em pauta?

De Rafael

Projetos de lei, vozes públicas falando sobre o tema, esporte e trabalho e estratégias em saúde mental: confira alguns dos assuntos de maior relevância para o próximo ano

A pauta de saúde mental vem conquistando cada vez mais visibilidade e engajamento nas mídias, especialmente com as mudanças no mundo do trabalho, do esporte, da educação, a relação constante com tecnologias e novos formatos de prestação de serviço, crescimento dos níveis de desigualdade… Sabemos que a saúde mental é também estrutural e, por isso, com a pandemia, surgiram ainda mais impactos nos diferentes aspectos da vida. 

Ao passo que uma infinidade de fatores que têm provocado transformações nos modos de convivência e comportamento das pessoas, cresce também a necessidade de olhares mais abrangentes e, ao mesmo tempo, específicos para os diferentes grupos sociais, e a importância de ampliar as discussões sobre o assunto e trazer olhares de prevenção e promoção. Com base neste cenário (e das grandes expectativas para 2022), trouxemos a seguir alguns dos assuntos de maior relevância para o próximo ano.   

  1. Artistas se tornam referências de advocacy em saúde mental – A fama também tem sido uma ferramenta importante para falar sobre temas de grande relevância social, conscientizar e chamar a atenção dos seguidores. Exemplos como Selena Gomez e seu projeto Wondermind (plataforma que oferece conteúdo de apoio e comunidade sobre questões de saúde mental); Billie Eilish, que é hoje uma das maiores referências jovens sobre o tema, discute abertamente suas experiências com a síndrome de Tourette, depressão e pensamentos suicidas; Adele lançou luz sobre o tema e ajuda a quebrar estigmas, abordando especialmente a ansiedade e a vida após o divórcio, em seu último álbum “30”. No Brasil, artistas como Anitta, Whindersson Nunes, Luiza Sonza e Camila Queiroz foram destaques na bandeira sobre saúde mental no último ano, compartilhando suas vivências e fragilidades. Após a polêmica no BBB21, Karol Conká também lançou um programa online sobre Saúde Mental. 

 

No próximo ano, a tendência é que haja mais espaço para o assunto entre membros da classe artística, e também nas produções culturais. A temática vem ganhando mais importância nos debates iniciados, explorados e explicitados pelo meio nos diversos canais. 

 

  1. Copa do Mundo – Saúde mental no esporte – Desde as Olimpíadas, em que grandes esportistas se posicionaram a favor da saúde mental, como Simone Biles e Naomi Osaka, o número de atletas a abordarem sobre o tema tem aumentado. No futebol as discussões ainda são tímidas, devido ao estigma que ainda persiste e ao mito de que ser forte é não falar abertamente sobre a saúde mental. Mas o estigma começa a ser questionado quando nomes de peso como Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, três dos maiores craques no segmento, anunciam enfrentar questões de saúde mental e afirmam que olham para isso com cuidado. Outro tema importante a ser levado em conta é a dificuldade de conciliar a saúde mental com o nível de cobranças por conquistas e títulos. Um exemplo recente disso aconteceu na última semana, quando, mesmo após a vitória do Palmeiras na Libertadores, o técnico do time, Abel Fernando Moreira, anunciou o desejo de deixar o cargo por conta da pressão sofrida. A procura pela excelência pode levar aos limites extremos e é importante saber identificar as pressões e buscar estratégias para lidar com elas. 

 

A Copa do Mundo deverá ser vitrine para o assunto, em 2022, visto que alguns atletas de destaque disputarão o torneio pela última vez, provavelmente — a exemplo de Messi e Neymar carregando uma enorme pressão pelo título. Em outros esportes, atletas cada vez mais novos são colocados na linha de frente do novo ciclo olímpico, com altas expectativas depositadas sobre eles. 

 

  1. Tecnologias e aplicação em Saúde Mental – O World Economic Forum listou as principais inovações aplicadas à saúde mental para a atualidade, dentre elas: a popularização da telemedicina com a pandemia da Covid-19, hoje assegurada como lei pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), e que possibilitou o atendimento às regiões mais remotas, mesmo para pessoas de regiões desassistidas; Criação de soluções em saúde mental, através de recursos para a produção de dados e KPIkpis que auxiliam na identificação de pontos defasados e onde devem ser feitos investimentos mais oportunos e eficazes, com base em pesquisas WEIRD (públicos específicos) e aplicativos digitais. Para tanto, organizações como OneMind, Health Navigator e o Fórum Econômico Mundial têm desenvolvido critérios de avaliação, que permitirão que as ferramentas recebam um selo de aprovação de que são clinicamente validadas, éticas e seguras; Novas políticas e modelos de trabalho viabilizados pela tecnologia que podem favorecer mudanças estruturais para a saúde mental (destacando as práticas ESG); Programas de educação online e qualificação de profissionais da saúde para atendimentos em saúde mental; Mecanismos de monitoramento tendências de saúde para poder formular intervenções e propostas de políticas públicas; Plataformas paraforma de disseminar informação e educar sobre o tema.

 

A pandemia acelerou o desenvolvimento tecnológico e as soluções surgidas nos últimos anos vem colaborando bastante para os cuidados com a saúde física e mental. As plataformas e ferramentas digitais ampliaram as possibilidades de acesso ao cuidado, tanto em termos de alcance, quanto de custos. Para o próximo ano, a expectativa é que os gadgets, softwares e computadores avancem mais alguns passos em prol de alternativas de saúde mental, seja no âmbito dos diagnósticos, cuidados, prevenção, promoção ou monitoramento. 

 

  1. O futuro do trabalho – A expectativa da entrada no início de 2022 da Síndrome de Burnout na CID11 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, realizada pela OMS – e os impactos nas leis trabalhistas e no próprio mercado passam a dar ainda mais relevância para as discussões sobre a saúde mental no ambiente de trabalho, inclusive destacando crises como o burnout. Neste contexto, surgem novas reflexões sobredestaca-se as novas modalidades de trabalho, que com a pandemia têmtem ganhado ainda mais força no setor: trabalho remotohome office e o trabalho híbrido. Tais mudanças, muitas vezes, têm implicado no aumento de cargas horárias, pressão psicológica, sobrecarga de tarefas, competitividade e outros aspectos que afetam a saúde mental de trabalhadores. Diante das incertezas do momento e da possibilidade de novos cenários de isolamento socialum novo lockdown, os diagnósticos apontados pelas mudanças no mundo do trabalho dos últimos anos precisam também refletir sobre novas estratégias de promoção e prevenção da saúde dos funcionários. Para o próximo ano, a perspectiva é que cada vez mais empresas passem a colocar a saúde mental como parte essencial da responsabilidade das organizações, visando transformações mais efetivas e que assegurem políticas assistenciais focadas em cuidados preventivos, não apenas em curto mas também em longo prazo. 

 

Entre as tendências corporativas para 2022, definitivamente está o ESG, que além de pautar os negócios pelo viés da sustentabilidade, também propõe estratégias mais assertivas para os cuidados com a saúde mental dos funcionários e colaboradores.

 

  1. 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental – O evento, que será realizado nacionalmente de 17 a 20 de maio de 2022 e com eventos municipais e regionais nos primeiros meses de 2022, é fundamental para a disseminação e aprofundamento das discussões sobre políticas públicas e práticas de cuidado em saúde mental. Sua ausência nos últimos 11 anos implicou em impactos nas discussões qualificadas sobre o tema. Para tanto, se faz indispensável incentivar a participação popular nos encontros,  a fim de trazer comunidades, famílias e pessoas que usam os serviços para dentro dos debates, reforçando a necessidade de articulação e contribuição das diferentes frentes: instituições, sociedade civil, setores públicos de atendimentos e governanças.  

 

Mais próxima das reflexões e conversas sobre saúde mental, a população poderá ser engajada e provocada a pensar e participar das discussões iniciadas sobre o tema, trazendo suas perspectivas para o debate e para a formulação de políticas públicas, que interferem na rotina das comunidades e estrutura do sistema de saúde, ajudando a elaborar  abordagens e soluções que reflitam suas necessidades. 

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