Sem tabus: Além do tratamento, cuidar da saúde mental é desenvolver inteligência emocional e novas habilidades

De Rafael

Profissionais do Hospital São Vicente destacam a importância do diálogo, acompanhamento clínico e rede de apoio

Criada em 2014, a campanha “Janeiro Branco” tem como objetivo alertar para os cuidados com a saúde mental da população. Diante de tantos casos, nunca foi tão urgente falar sobre o assunto. Depressão, ansiedade, fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar e transtorno de personalidade borderline são algumas das disfunções que integram o universo da especialidade. O desemprego, desafios familiares e dificuldades financeiras assolam uma sociedade cada vez mais doente e necessitada de acolhimento, principalmente no enfrentamento da pandemia, que após dois anos ainda deixa sequelas físicas, mentais e sociais.

Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade afeta 18,6 milhões de brasileiros e os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço do número de pessoas incapacitadas nas Américas. Buscando informar com responsabilidade, oferecer auxílio e firmar seu compromisso com a saúde da população, o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV) orienta sobre o cuidado com a mente.

Terapia do autoconhecimento

A psicóloga da clínica do colaborador no HSV, Renata Becker, conta que seu maior desejo dentro de sua profissão é trabalhar de forma preventiva. “Muitas pessoas só iniciam ou procuram o atendimento psicológico quando enfrentam uma situação desafiadora ou identificam mudanças negativas no comportamento físico e emocional. Na verdade, a terapia é um recurso muito mais abrangente e nos oferece benefícios no cotidiano. Estar na terapia é desenvolver o autoconhecimento, a inteligência emocional, novas habilidades e, para isso, não é necessário que o paciente tenha algum transtorno. A terapia é benéfica para todos os momentos da vida”.

A profissional explica ainda que o mais indicado seria que esse suporte fosse oferecido desde a infância. Com diferentes realidades sociais e econômicas em jogo, o maior desafio é o acesso ao serviço. “É importante para que a criança aprenda a se expressar e não reprimir emoções, pois tudo que é reprimido é potencializado, saber administrar seus sentimentos e colocar isso para fora de maneira adequada. Claro que todo esse acompanhamento acaba refletindo na vida do paciente ao longo dos anos e dando muito mais estabilidade para a fase adulta”.

Identificando o transtorno

Segundo a psicóloga hospitalar, Lorranie Suzan Soares Resende, o principal fator que auxilia na identificação de sintomas relacionados a algum sofrimento psíquico é o vínculo e um olhar atento para o familiar. Na existência de uma relação de proximidade e cuidado, é possível perceber quando o familiar passa a apresentar alterações no modo como ele se comporta e se expressa no cotidiano, se seu autocuidado está preservado, se os hábitos de alimentação e sono estão sofrendo modificações inesperadas ou não voluntárias, bem como, na maneira como o familiar se manifesta emocionalmente.

“Outro aspecto fundamental trata-se da família estar atenta às expressões emocionais e comportamentais de familiares que, por alguma ocasião, passaram por situações de muito estresse, vivências dolorosas e/ou possivelmente traumáticas. Há diferentes tipos de sofrimento psíquico e eles poderão se apresentar de maneiras distintas, através de sintomas diversos e em níveis díspares de interferência no cotidiano profissional, social, familiar e relacional”, disse a profissional.

A psicóloga Renata completa que o diferencial do que é caracterizado como natural ou não é a intensidade e a durabilidade dos sintomas tanto agráveis, quanto desagradáveis. “Os transtornos contam com sintomas diferentes, mas no geral se a tristeza, a euforia, a felicidade, a falta de animo, choro constante, mania de consumo, entre outros sentimentos perdurarem por dias, semanas ou meses, o caso deve ser observado com atenção. Tudo pode desencadear um transtorno, considerando até questões de estresse, histórico familiar, entre outros fatores”.

É fato de que a batalha é travada pelo paciente, mas os familiares e amigos possuem papel fundamental para o enfrentamento da doença. A força vem de palavras, de estimulo e de companheirismo no momento da dificuldade. “Se você estiver lidando com alguém que esteja apresentando sinais de sofrimento psíquico, orientamos e ressaltamos a importância de ofertar sua presença de maneira cuidadosa, disponível, acolhedora e sem julgamentos, como forma de abertura para oferecer escuta e amparo”, disse Lorranie.

Imagem: Divulgação

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