Dia Nacional do Diabetes: Diabetes continua sendo a maior pandemia do século

De Rafael

Perda de peso é o 1º passo no combate à doença, como demostrou artigo publicado pelo The Lancet

O Brasil ocupa a 6ª posição no ranking dos 10 países com mais casos de diabetes no mundo, sendo que 16,8 milhões de pessoas vivem com a condição no país, de acordo com o Atlas da Federação Internacional de Diabetes de 2021. A estimativa é que em 2030 esse número chegue a 21,5 milhões no Brasil. Em todo o mundo, um em cada dez adultos tem a doença, ao todo são 537 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos que convivem com o diabetes. A estimativa é que em 2030, o número mundial de pessoas com a doença passe para 643 milhões e em 2045, para 784 milhões, sendo considerada a maior pandemia do século XXI.

Um artigo publicado em janeiro deste ano, na revista The Lancet, importante periódico científico internacional, demonstrou que naqueles pacientes portadores de diabetes associados à obesidade, a perda de peso é o primeiro passo para controle da glicemia e para evitar a progressão da doença e de suas complicações, como a insuficiência renal e eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC (acidente vascular cerebral). Esta publicação foi importante para que as Sociedades Americana e Europeia de Diabetes propusessem um algoritmo apresentado durante a 82nd Scientific Sessions of the American Diabetes Association que o tratamento da obesidade é o passo inicial fundamental para o tratamento do diabetes. Os novos agentes farmacológicos, apesar de ainda com estudos com curto tempo de seguimento, têm resultados excelentes em relação à perda de peso e controle da glicemia. Porém, como acontece com qualquer tratamento médico, existem pacientes que não têm a resposta esperada ao tratamento medicamentoso. Assim, para aqueles onde o melhor tratamento não consegue o objetivo, a cirurgia metabólica aparece com destaque no novo algoritmo proposto.

O artigo do The Lancet contou com a participação do Dr. Ricardo Cohen, Coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, além de pesquisadores dos EUA, Australia e Irlanda. “Esta é a primeira vez que a perda de peso por meio da cirurgia metabólica é mencionada como passo inicial no tratamento do diabetes tipo 2, quando o melhor tratamento clínico não atinge o desfecho planejado. Antes, tratava-se primeiro a glicemia, agora dedica-se ao emagrecimento, que pode interromper a evolução da doença a longo prazo”, afirma Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos autores da publicação.

Dr. Ricardo Cohen destaca que as cirurgias metabólicas, além da perda de peso, levam ao controle do diabetes através de mecanismos que melhoram a secreção de insulina pelo pâncreas e diminuição da resistência dos tecidos à ação da insulina, que levam ao controle dos índices de açúcar na corrente sanguínea. Pode ser realizado em indivíduos que não conseguiram ter o diabetes controlado por meio do melhor tratamento medicamentoso e da mudança de hábitos e que apresentam comorbidades associadas ao diabetes, resultando tanto na remissão da doença e auxiliando na prevenção e até tratamento das doenças renais e eventos cardiovasculares secundários à evolução do diabetes. “As ações diretas em relação à perda de peso e os mecanismos de melhora da função do pâncreas e sensibilidade dos tecidos à insulina deixam a cirurgia metabólica como mais uma opção aos médicos, que poderão definir quais pacientes devem ter o acesso à cirurgia priorizado”, completa.

Números alarmantes

Só no ano passado, o diabetes tipo 2 causou 6,7 milhões de mortes em todo o mundo. E no Brasil, 9,14% da população com mais de 18 anos já convivia com o diabetes. Em 2020, esse índice era de 8,2%, ou seja, houve um aumento de 11,47%, de acordo com os dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito Telefônico) 2021, pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde para colher informações sobre fatores de risco de saúde da população.

Para o coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, esses dados revelam a importância da prevenção do diabetes não só no Brasil, como também no mundo. “O diabetes é uma doença crônica e progressiva e continua sendo a maior pandemia do século atual. Devemos traçar estratégias para tratar aqueles que mais necessitam. Por isso, chamamos a atenção para a importância do diagnóstico precoce, por meio de um atendimento multidisciplinar e individualizado. Devemos ter um olhar mais aguçado quanto aos sintomas e optar pelo melhor tratamento para aquele indivíduo. Só assim vamos conseguir vencer essa batalha contra o diabetes”, destaca o especialista.

Além da maior prevalência, o Atlas da Federação Internacional de Diabetes de 2021, coloca o Brasil no 3º lugar entre os países com maior despesa com o tratamento. O custo estimado do diabetes, no ano passado, foi de US$ 42,9 bilhões, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos, com US$ 165,3 bi e US$ 379,5 bi, respectivamente.

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