Fevereiro Laranja: mês da conscientização sobre a leucemia

Hematologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz esclarece dúvidas sobre leucemia, tipo de câncer que afeta as células sanguíneas na medula óssea

Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o número estimado de casos novos de leucemia no Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 11.540, sendo 6.250 em homens e 5.290 em mulheres. Em 2020, a doença foi responsável por 6.738 mortes no país. A leucemia é um tipo de câncer que afeta as células sanguíneas na medula óssea, podendo ser aguda ou crônica, dependendo da velocidade de evolução.

A primeira progride rapidamente e produz células que não estão maduras e não conseguem realizar as funções normais, com transportar oxigênio e nutrientes, defender o organismo de infecções, coagular o sangue e regular a imunidade. A leucemia crônica, entretanto, normalmente progride lentamente e os pacientes têm um número maior de células maduras, mas anormais.

De acordo com Dr. Phillip Bachour, hematologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, quadros de leucemia são curáveis, para isso, é importante o diagnóstico precoce, tratamento adequado e acompanhamento especializado.

Dentre os dois tipos principais, existem ainda diversos subtipos de leucemia, que são definidos de acordo com as células sanguíneas afetadas. Os principais subtipos de leucemia são: leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia linfoblástica aguda (LLA), leucemia mieloide crônica (LMC) e leucemia linfocítica crônica (LLC). Cada um tem características próprias, que devem ser consideradas no diagnóstico e no tratamento.

No Brasil, a LMA é o subtipo mais comum, representando cerca de 40% dos casos de leucemia, seguida pela LMC (25%), pela LLA (20%) e pela LLC (15%). As leucemias agudas (LMA e LLA) são mais frequentes do que as crônicas (LMC e LLC), correspondendo a cerca de 60% dos casos de leucemia.

Sintomas e diagnóstico

Segundo o médico, os sintomas da leucemia podem variar de acordo com o tipo e o estágio da doença, mas alguns sinais comuns são: sangramento gengival frequente, petéquias (pequenas manchas vermelhas na pele), febre alta sem razão aparente, mal-estar, astenia (perda de força muscular) e fraqueza. “Em geral, as leucemias, especialmente a aguda, são dificilmente rastreáveis por meio de exames preventivos devido à sua instalação rápida. Diante desses sintomas, recomenda-se que o paciente busque imediatamente atendimento hospitalar”, completa.

O exame inicial indicado para iniciar a investigação diagnóstica de leucemias é o hemograma, que avalia a quantidade e a qualidade das células sanguíneas, que pode indicar precocemente a presença da forma aguda da doença e possibilitar sua prevenção efetiva. Se houver alterações, o médico pode solicitar exames complementares, como mielograma (coleta de amostra da medula óssea), imunofenotipagem (identificação das características das células leucêmicas) e cariótipo (análise dos cromossomos das células leucêmicas).

Além desses, outros exames são cruciais para um diagnóstico preciso a fim de orientar o tratamento adequado e identificar mutações específicas, como o Sequenciamento de Nova Geração (técnica que permite sequenciar o DNA e o RNA de forma rápida e com alto rendimento).

Causas e fatores de risco

As causas da leucemia não são totalmente conhecidas, mas existem alguns fatores que podem aumentar o risco de desenvolver a doença, como: tratamentos anteriores com quimioterapia ou radioterapia, exposição a derivados de benzeno e agrotóxicos.

No entanto, o Dr. Phillip Bachour ressalta que esses fatores não são determinantes, e que na maioria dos casos a leucemia ocorre de forma aleatória, sem causa aparente. “São mutações genéticas indeterminadas, sem uma associação hereditária claramente definida. Na maioria dos casos, essas mutações são esporádicas, ocorrendo durante o desenvolvimento celular. Uma vez que a célula sofre mutação, o sistema imunológico muitas vezes não reconhece a célula como doente, permitindo seu desenvolvimento e gerando a leucemia”, explica.

Tratamento e cura

O tratamento da leucemia depende do tipo, do subtipo, do estágio e das características individuais de cada paciente. O objetivo é eliminar as células leucêmicas e restaurar a produção sanguínea normal na medula óssea. O tratamento mais comum é a quimioterapia, que consiste na administração de medicamentos que destroem as células cancerígenas. Em alguns casos, a quimioterapia pode ser associada à terapia-alvo, que utiliza medicamentos específicos para bloquear as mutações das células leucêmicas.

Em casos de prognóstico mais agressivos, pode ser indicado o transplante de medula óssea, que consiste na substituição da medula doente por uma saudável, proveniente do próprio paciente (autólogo) ou de um doador compatível (alogênico). O transplante de medula óssea é um procedimento complexo e que envolve riscos, mas que pode aumentar as chances de cura em cerca de 40 a 50% dos casos.

O Dr. Phillip Bachour reforça que a leucemia, mesmo sendo uma doença desafiadora, tem boas chances de cura, e salienta a relevância do diagnóstico precoce, enfatizando a necessidade de identificação dos sintomas dentro do prazo e a realização de exames específicos para iniciar um tratamento eficaz. Além disso, Bachour destaca a importância dos cuidados especializados, sustentando que uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais experientes, é vital para otimizar o prognóstico e promover a qualidade de vida dos pacientes ao longo do tratamento da leucemia.