Por ambiente mais acolhedor, hospitais dão voz às crianças

De jaqueline

Como tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor para as crianças que estão passando por tratamento de saúde? Para saber, basta ouvi-las. É justamente isso que alguns hospitais já estão fazendo, no Brasil e fora do país também. Implantado há seis meses no Hospital Universitário de Jundiaí, que é referência em alta complexidade para atendimento materno-infantil na região, o projeto “Escuta de Crianças” tem como objetivo ouvir dos pequenos pacientes suas demandas, propostas e soluções sobre as instalações e o atendimento que recebem.

De acordo com a direção do Hospital Universitário, a partir de escutas que são realizadas semanalmente por facilitadores, desde que o projeto foi implementado, estão entre algumas das solicitações que já foram atendidas: visitação dos irmãos mais velhos para o bloco neonatal; visitação de cães e outros pets de estimação à brinquedoteca, que também passou a funcionar todos os dias da semana; quartos que ganharam rede wi-fi; e na parte externa, novas pinturas no piso e a inclusão de brinquedos não estruturados.

“Quando dizemos que uma cidade boa para as crianças é boa para todo mundo, conceito que baliza o programa Cidade das Crianças, é disso que estamos falando, da escuta atenta às contribuições delas e a implementação de melhorias e novidades que impactam positivamente toda a sociedade”, afirma Luiz Fernando Machado, prefeito de Jundiaí, primeiro município do estado de São Paulo e o segundo do país a aderir à Rede Latino-Americana Cidade das Crianças, uma iniciativa concebida pelo pedagogo italiano Francesco Tonucci.

O prefeito conta que o projeto foi inspirado no modelo de escuta implementado pelo Hospital Pedro de Elizalde, em Buenos Aires, na Argentina, durante um evento promovido pela rede Cidade das Crianças. Lá, entre mudanças já produzidas, estão a introdução de mais cores ao espaço (que antes era majoritariamente branco), a criação de sessões de cinema aos domingos (momento indicado pelas crianças como o mais triste da rotina hospitalar) e a mudança de protocolo em prol do direito à privacidade (nenhum profissional entra no quarto sem pedir licença).

“Não apenas como gestor, mas como pai de família, sinto que devemos dar espaço às opiniões da infância, sejam elas as mais singelas ou as mais significativas. A importância de ouvir a criança sobre o que ela espera que uma cidade faça por ela está no fato de, naturalmente, elas possuírem um olhar sem malícia, sem egoísmo e sempre positivo sobre o mundo”, diz Luiz Fernando Machado. “Quando as crianças são escutadas, não só se sentem participantes das mudanças, como obtêm até mais rapidamente sua recuperação”, conclui o pedagogo Francesco Tonucci.

Para adultos e crianças – Em julho do ano passado, o Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, também inaugurou um espaço para oferecer mais conforto emocional aos pacientes. Idealizado pela cantora de sucessos como, “Beija eu” e “Amor I love You”, o Espaço Imaginário Marisa Monte, que teve as paredes e mobiliário decorados com ilustrações da artista plástica Marcela Cantuária, que fazem parte do último álbum de estúdio da intérprete carioca, conta com instrumentos musicais, materiais para desenho e livros doados por diversas editoras.

De acordo com a cantora, em entrevista concedida ao Jornal da USP, o local é destinado a todas as pessoas dentro da experiência de internação, como pacientes, acompanhantes, médicos, funcionários e enfermeiros. “Estar presente com arte dentro de uma instituição de educação e de saúde pública no Brasil, e fazer uma investigação sobre como a conexão com o imaginário e com a criatividade pode impactar o bem-estar das pessoas que estão passando pela experiência da busca da cura, é algo que me interessa”, declarou Marisa Monte à época da inauguração.

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